Romário: "não bateria uma foto com banana para dizer que sou macaco"
29/04/14 19:47Romário estava indignado na tarde de hoje, por conta da supressão de alguns artigos do projeto Proforte, justamente aqueles que comprometiam a CBF e as federações com uma série de obrigações. “Infelizmente alguns deputados como Vicente Cândido (PT) e Rodrigo Maia (DEM), da bancada da bola, não deixaram passar. A gente ainda vai presenciar muita coisa errada no Congresso, aqui o voto do mal predomina sobre o bem, e não só nos esportes”, desabafou o deputado, pré-candidato de seu partido, PSB, ao Senado.
Nesta entrevista, o ex-craque explicou sua visão sobre a Copa (“fora de campo já perdemos”), trazendo à tona alguns exemplos ilustrativos, como o cálculo do orçamento, que subiu de R$ 25 para R$ 30 bilhões. “No início o governo Lula dizia que 90% da verba seria privada, e o que aconteceu foi o contrário, 90% da verba é pública. Por isso as pessoas têm que se manifestar nas ruas, mesmo”.
Romário também falou sobre a reação de Daniel Alves, que comeu uma banana que foi atirada em sua direção durante jogo do Barcelona. “A reação dele foi dentro de um espírito esportivo, de provocação. Tenho certeza de que ele não quis dizer que era macaco. Macaco é macaco e gente é gente”.
“Eu não bateria uma foto com banana para dizer que sou macaco. Não vejo assim. Infelizmente a hipocrisia no Brasil corre solta”.
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Como você vê o futebol brasileiro às vésperas da Copa?
Cara, eu posso te afirmar que o futebol brasileiro está em péssimas mãos. A CBF é uma entidade totalmente corrupta. Esse novo presidente que foi eleito (Marco Polo del Nero), demonstrou em pouco tempo que não está preocupado com um Brasil melhor.
Com Ricardo Teixeira era melhor?
Com certeza hoje está pior do que era com o Teixeira, que quando começou sua gestão ainda tinha um objetivo.
E a realização da Copa?
O Brasil perdeu a oportunidade de mostrar uma cara diferente. Não aconteceu nem vai acontecer. O planejamento foi mal feito e a organização pior ainda. A insatisfação do povo tem toda razão de ser. Fora de campo o Brasil já perdeu.
Quem são os culpados?
O governo é o principal culpado, além da CBF. O PT definitivamente não foi bom para os esportes no Brasil, tanto com o Lula quanto com a Dilma.
E as manifestações?
Tem que continuar. O político só é movido a isso. Após os protestos muitos projetos foram votados. Tanto a CBF como o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) não são dignos de comandar o Brasil.
Agora que está finalizando seu primeiro mandato, qual sua percepção sobre a atividade política no Congresso?
Falta coragem e atitude para renovar o esporte. A CBF paga muito para que um deputado se manifeste a favor dela. E aqui, infelizmente, a parte financeira está acima de qualquer interesse.
Mas não estou decepcionado com o Congresso. Não é diferente do que eu imaginava e do que o povo já sabe.
Existe um clima de insatisfação?
Geral, em todos segmentos. Poderíamos ter deixado um legado positivo nas doze cidades-sede, principalmente em termos de mobilidade urbana. 80% dos projetos de mobilidade urbana foram retirados da matriz de responsabilidade. E dos 20% que sobraram, quase 60% não serão entregues a tempo do evento. Enquanto isso, o orçamento, que era de R$ 25 bilhões, subiu para R$ 30 bilhões.
O Brasil poderia muito bem ter aceitado organizar a Copa como aceitou. Mas era preciso fazer de outra forma. O governo Lula dizia que 90% dos investimentos seriam privados e o que a gente vê é o contrário, 90% é público.
E quem está lucrando com a Copa?
Cara, a CBF, a Fifa e alguns políticos corruptos. Só eles e mais ninguém. Ontem soube através do blog do Juca Kfouri que nunca a CBF lucrou tanto como no último ano.
É otimista?
Sempre fui otimista e pró-ativo. Especialmente neste ano, em que o povo tem a oportunidade de pelo menos melhorar seus governantes, com as eleições.
Qual será sua plataforma eleitoral?
Em qualquer posição política eu assumo principalmente a moralização da coisa. Seja no combate ao crack, no tratamento aos portadores de doenças raras, na educação.
Que tal trabalhar em uma casa presidida pelo senador Renan Calheiros?
O povo já se manifestou. E a razão está com o povo. A coisa aqui poderia ser diferente, infelizmente ainda lidamos com a mentalidade de políticos velhos.
Qual a relação do futebol com a política?
Cara, a corrupção que tinha na política passou para o futebol. Um exemplo é o Bom Senso, que foi criado pelos jogadores. Eles sabem melhor do que ninguém sobre o dia a dia, sobre a questão do calendário, e assim por diante. Sentaram com os mandatários da CBF e deu em nada.
Você acha que o Brasil leva a taça?
Dentro de campo temos bastante chance, especialmente depois do que vimos na Copa das Confederações. Felipão trouxe um futebol positivo, moderno. Mas não acho que o Brasil seja a melhor das 32 seleções. Acredito que Alemanha seja melhor dentro de campo, mas nem sempre ganha o melhor. Argentina e Espanha também são favoritas.
E o Neymar?
É a nossa grande esperança. Não está num momento muito bom, assim como o Paulinho e outros companheiros da seleção, que estão na descendente. Jogar futebol é isso, às vezes você cai de produção. Eu já participei de Copa. E na Copa, você tem que trocar o chip.
O ambiente é único, eles sabem que o povo está totalmente decepcionado com as falcatruas.
Que achou da reação do Daniel Alves, que comeu a banana que lhe foi atirada durante jogo do Barcelona?
Se você reparar, muitas dessas histórias de racismo têm acontecido com jogadores da seleção brasileira, na Europa. É que o Brasil é o time a ser batido. Pode haver alguma manipulação aí.
Mas racismo é coisa do passado, não era para estar acontecendo. Punições fortes são necessárias.
E essa história de “Somos todos macacos”?
Daniel Alves com certeza não quis dizer isso. Macaco é macaco e gente é gente. Eu não bateria uma foto com banana para dizer que sou macaco. Agora, cada um é um. Infelizmente a hipocrisia e o oportunismo correm soltos no nosso país.