"O metrô está trabalhando com a sorte"
11/06/14 13:49
A demissão por justa causa de 42 funcionários do Metrô, na esteira da paralisação de cinco dias ocorrida na última semana, “consiste claramente em uma retaliação do governo para enfraquecer o movimento. Isso é perseguição política”, afirmou a este blog o presidente do sindicato dos metroviários, Altino Prazeres Júnior, 47, maranhense, operador de trem, 20 anos na corporação, graduado em Matemática pela USP, e um dos fundadores do PSTU. “O governo está demitindo primeiro para depois apurar as responsabilidades. Só falta agora acusar São Pedro porque não tem chuva”.
Altino afirmou agora pela manhã que dois dos demitidos, um segurança e um agente de estação, foram reintegrados. “Já é uma vitória”. Ainda assim, de acordo com ele há um sentimento de indignação da categoria com o total das demissões. Existe a possibilidade de haver greve amanhã. A decisão sairá de uma assembleia que será realizada no final da tarde de hoje.
“Fazer uma greve no dia da Copa é ruim, não é o que queremos – a não ser que sejamos empurrados para isso. Está nas mãos do governo Alckmin”, disse.
Membros do sindicato ouvidos pela reportagem acreditam que dificilmente a greve será mantida, por conta da multa de R$ 500 mil imposta pela Justiça e ameaça de demissão de mais 300 funcionários.
O próprio Altino afirma que “existe uma certa dúvida”. “Vamos ouvir a assembleia e fazer aquilo que a categoria quiser”.
Segundo Altino todos os 42 demitidos são ativistas, sendo que 11 deles participam da diretoria do sindicato. O governo afirma que as demissões estão ligadas a atos de vandalismo, arrombamentos e uso indevido do sistema sonoro.
Altino responde, “ninguém cometeu agressão. Se fosse para demitir, tinha que demitir os mais de 8 mil trabalhadores que aderiram à greve”.
Com relação à multa de R$ 900 mil fixada pela Justiça ao sindicato pelos cinco dias de greve, Altino afirmou que a instituição irá recorrer: “existe um objetivo de estrangular o movimento. Para nós, pagar esse valor é falir financeiramente”.
Altino contestou a decisão judicial que considerou a mobilização abusiva: “Isso é coibir nosso direito à greve”. Lamentou os 8,7% de reajuste negociados (a inflação foi de 5,82%): “os motoristas de ônibus por exemplo conseguiram 10%. Mas estávamos no limite da categoria, após cinco dias de paralisação”. Outras demandas, como participação igualitária nos lucros, independentemente da faixa salarial, também não foram atendidas.
Para Altino, a superlotação no metrô está cada vez pior. “É recorde atrás de recorde. Costumo dizer que muitas vezes o metrô está trabalhando com a sorte. Por exemplo, às seis da tarde você já não vê mais a linha de proteção amarela, de tanta gente”.
O incidente de 4 de fevereiro, quando vários usuários lotaram os túneis da linha 3-vermelha do metrô após uma falha parar a circulação de trens, é um exemplo. “É muita adrenalina para quem opera o trem, e tem gente que não suporta, trabalhar com isso é estressado”.
Outro ponto de atenção de acordo com Altino é a linha 4, que é privada e opera sem operadores de trem. “É um trem cego”. Os seguranças de acordo com ele são os que mais reclamam da superlotação. “Ficam o tempo todo em pé tendo que controlar a multidão, e carregando equipamento de uns 8 kilos. São os que mais apresentam problemas psicológicos”.
Altino reprova a gestão Alckmin: “Não gosto de seu governo. Acho muito ligado a empresas, que por sua vez estão ligadas à corrupção. Foram elas que denunciaram o esquema dos cartéis, e não porque são boazinhas. Já ficou demonstrado que o preço das obras aqui em São Paulo é 2,5 vezes maior que em outras capitais”.
“A velocidade que a população cresce é desproporcional à velocidade da abertura de novas estações”, acrescenta.
Na visão do presidente do sindicato, a solução para o problema do transporte público passa pelo subsídio às passagens. “Os metrôs de Nova York, Londres, Cidade do Mexico são altamente subsidiados. Se eu fosse o governador, colocava as empresas que prestam serviço para subsidiar, pois são elas as maiores beneficiárias do transporte público”.
“A única solução é o subsídio e subsídio alto. A partir daí triplicar a malha do metrô e só depois entrar com o monotrilho”.