Blog do MorrisBlog do Morris http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br Conversas com pessoas notáveis Fri, 09 Jan 2015 20:03:23 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Laerte: no Brasil Charlie Hebdo não existiria http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2015/01/09/laerte-no-brasil-charlie-hebdo-nao-existiria/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2015/01/09/laerte-no-brasil-charlie-hebdo-nao-existiria/#respond Fri, 09 Jan 2015 19:48:51 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=440 Continue lendo →]]>
Auto-retrato feito especialmente para este blog

Auto-retrato feito especialmente para este blog

Encerrando o ciclo virtuoso de entrevistas deste blog, decidi visitar a cartunista Laerte em sua agradável casinha no Butantã, para papearmos sobre Charlie Hebdo e os tenebrosos acontecimentos de Paris.
Como se sabe, Laerte é uma das maiores cartunistas do Brasil. Personagens suas como os Piratas do Tietê entraram para a história. Suas tiras, que pelo menos para mim são as mais inspiradas, continuam sendo publicadas diariamente na Folha de S. Paulo.
Por conta das opiniões que andou divulgando a respeito do atentado, Laerte foi ameaçada no facebook e teve que lidar com comentários do tipo, “não deviam ter matado o Glauco. Mataram o cartunista errado”.
De uns tempos pra cá Laerte se percebeu como uma pessoa transgênera e me recebeu, muito bem por sinal, acompanhada de suas duas gatas, vestindo saia e blusa, havaianas rosas e as unhas feitas pintadas de vermelho. A entrevista ocorreu em seu estúdio, entre pilhas de livros, algumas contas a pagar, um computador turbinado e a boa e velha prancheta de desenhos.
Laerte estará presente amanhã no ato em solidariedade aos colegas do Charlie Hebdo, que está sendo organizado pela secretaria de direitos humanos, sindicato dos jornalistas e entidades de cartunistas. A partir das 11 hs, em frente à Praça das Artes, no Centro.

SOBRE O BLOG – é com um certo aperto no coração mas de cabeça erguida que anuncio o fim das atividades deste blog. Queria agradecer primeiramente a Folha e o UOL, que me deram suporte e abriram espaço para que pudesse desenvolver um trabalho independente e autoral, tendo como objeto a produção de entrevistas longas, com espaço de sobra para a reflexão, com personalidades das mais diversas áreas. Foram dezenas delas. Romário, Jean Willys, Marcelo Freixo. Fernando Meirelles, Marcelo Tas. Guilherme Boulos (MTST), Pablo Capilé, MPL. Maria Rita Kehl, Marcio Pochmann. Chacal, Gerald Thomas. Bela Gil. E outros tantos que ajudaram a manter este blog na linha de frente do noticiário com ideias inspiradoras ou polêmicas.
Também queria agradecer Tracy Segal, intrépida atriz carioca que com seu repertório e sensibilidade se tornou parceira frequente nas entrevistas e na concepção do blog.
Por fim, e principalmente, a audiência que demonstrou interesse e fôlego em ler e comentar entrevistas extensas e mais aprofundadas que chegaram a durar mais que três horas.
A todos vocês, um excelente 2015. E para quem quiser continuar acompanhando as ‘kachanices’ deste blogueiro, é ligar a televisão nos sábados à tarde. A gente se encontra no Caldeirão do Huck!! Um grande abraço, Kachani.
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Qual a influência do humor praticado pelo CH em sua vida?
Pra mim pessoalmente fez parte das informações do final dos anos 60 que me convenceram de que era isso que eu queria fazer.
Nesse final dos anos 60 essas coisas todas, CH, anarquista e porra louca francesa, a contracultura americana, a porra louquice californiana e o Quino, mais essa combinação com o Pasquim, foi o que forjou a gente.

Muitos muçulmanos relataram um choque cultural, com a charge sobre o profeta.
Acho que no Brasil nenhuma dessas capas da Charlie Hebdo teria sido feita. A gente não faria nem Family Guy, a gente não faria nem o South Park, nem Simpsons a gente faria, porque humor tem a ver com a cultura do país. Humor é um vínculo com a população local.
O Charles Hebdo está na França, estão falando com uma população de porra loucas que se julgou durante séculos dona cultural do mundo, e até hoje se acha. Estranham quando você não fala francês. Wolinski não falava uma palavra de inglês ou espanhol.

E por que o Brasil não seria capaz de produzir as capas da Charlie Hebdo?
A formação cultural é outra, tem a ver com compromissos, arranjos de acomodação. Nunca se praticou no Brasil o debate claro. As pessoas tendem, no cotidiano, a acomodar posições, mais que debater ideias. No Brasil o debate vira briga em 2 segundos.
Não que no Brasil não se fale porra louquices ou se deixe de fazer humor agressivo. Mas temo que no Brasil esse tipo de humor só aconteça com pessoas que claramente não têm poder. Chutar cachorro frágil. Digo isso porque lembro de várias situações em que o Danilo Gentili voltou atrás na TV e pediu desculpas: para a comunidade judaica, para a Preta Gil – ele morde e assopra. Aqui existe um negócio que é o respeito a “otoridade”, que é um fato.

E o Pasquim?
Tinha a anarquia e um modo de lidar, mas não sei se iriam tão longe. Foram bastante agressivos em várias situações, mas o alvo principal era a ditadura. A França do Charlie Hebdo existia em um contexto em que não tinha ditadura fazia tempo. De Gaulle já estava nos estertores quando essa linguagem começou.
O Porta dos Fundos também faz bastante gozação. Houve bastante reclamação mas eles não pararam, não foram bloqueados. Sinal de que comunidade religiosa talvez não seja tão poderosa por aqui quanto a gente pensa.

E teve o caso do Rafinha Bastos.
Aí não tem a ver com liberdade de expressão. Tem a ver com o papel subalterno da mulher. Wanessa Camargo não abriu a boca durante todo o processo, que foi movido até pelo feto dela. O autor era o marido dela, era uma briga de homem.
Uma briga idiota, que podia ser respondida com um simples “Rafinha, cresça e apareça”. Mas não, virou um processo porque a honra do marido foi ultrajada. E era um cara rico. Uma coisa de poder econômico e de poder machista que envolveu o Rafinha. Acho a piada idiota mas fiquei do lado do Rafinha.

Qualquer tipo de piada é válida no final das contas?
Hugo Possolo falou uma coisa linda. Você pode fazer piada de qualquer coisa, o que importa é saber de que lado da piada você está. Acho isso muito profundo, porque mostra que toda piada é ideológica, não existe piada só piada. Olha as capas do CH: não são só piada, são declarações, é um discurso ideológico, violento, agressivo, muito engraçado também.

A indignação com a charge de Maomé tem razão de ser?
Maomé apareceu pelado de quatro com estrela no cu. Os caras fizeram coisas… a gente não faria isso nunca. Eu não sei o que eu faria pessoalmente se fosse editor do CH. Por muito menos eu caguei nas calças na época do ‘Balão’ em 72. Era um fanzine, Paulo Caruso fez uma história linda, de uma mulher no parque que não queria dar pra ele, uma história linda e engraçada, e eu caguei nas calças. Pensei: meu Deus isso vai atrair a repressão.

É saudável existir um CH para a sociedade.
Não só saudável. É significativo que ele seja francês. Na Inglaterra tem uma liberdade de expressão parecida, mas eles não fariam isso. O humor britânico é diferente. Monty Python fez “ A vida de Brian” que mexe com judaísmo, com religião e um monte de coisa, é violentíssimo também, mas tem essa elegância.

Isso tudo me faz pensar sobre as construções teóricas sobre o humor.
Em primeiro lugar, que o humor é humano, não existe humor que ridicularize coisas ou animais. É sempre humano. Em segundo lugar, é sempre grupal. Não existe humor produzido nem por um indivíduo nem para um indivíduo. Terceira coisa é algo que Bergson falava, que acho interessante, que nunca consegui apreender totalmente, é a ideia de que o alvo da ação humorística é o momento em que o ser humano deixa de ser humano, quando ele age mecanicamente. Quando se coisifica.

Humor e preconceito se cruzam?
Muitas vezes, porque quem faz a piada precisa contar com a sintonia do público. Se você entra com uma informação polêmica, que é nova, você não obtém risadas, obtém estranhamento, agressividade, estupor. Quando os caras invadem a redação do CH não é piada, estão produzindo uma tragédia e nossa reação não é rir. Agora, se alguém atirar sapato na cara do Bush é muito engraçado.
Fiz uma historinha com o Alzheimer kid que adorei na época, um sujeito saindo correndo na cidade avisando que kid veio pra matar. Ele veio pra matar mas não lembrava quem. É engraçado mas um monte gente reclamou, Alzheimer é uma tragédia.

Tem como fazer humor sem isso?
Renato Aragão disse em entrevista que no seu tempo viado e preto não reclamavam quando se fazia piada sobre eles. Não tinha dor? Tinha. Mas socialmente não eram grupos empoderados. Tinham que ser cúmplices das humilhações que estavam sofrendo.

Um humor que desse vazão às ideias de Bolsonaro por exemplo, é legítimo em sua opinião?
Tem o Danilo Gentili por exemplo. É legítimo que exista esse tipo de humor. Mas ele tem que ser criticado, enfrentado. Faz parte de um pensamento que tem que ser enfrentado.
O Gentili faz piada que humilha as pessoas e as conduz a uma situação de perda, como no caso da doadora de leite que ele chamou de vaca e coisas piores possíveis – ela foi ridicularizada em sua cidade, não podia sair na rua, entrou em depressão.

Os fundamentalistas islâmicos também querem enfrentar o humor, só que pegando pesado em armas.
O objetivo real não é enfrentar o ataque humorístico, o objetivo real é político. O objetivo não era atacar a liberdade expressão. Acho que estão cagando pra liberdade expressão.

Você concorda com a colocação, de que o atentado ao Charles Hebdo foi o “11 de setembro da liberdade de expressão”?
Não gosto, acho tola e apressada. Acho que o que foi atacado não foi a liberdade de expressão. É uma tática para um jogo político mais complexo e perigoso. O jihadismo não tem a pretensão de controlar a liberdade de expressão na França. Este é um traço que vem desde a Comuna de Paris.

Não houve ataque à liberdade de expressão?
Houve um ataque à liberdade de expressão, mas não é este o objetivo estratégico. Por que não atacam a direita anti-islâmica? Porque não interessa. Querem criar uma confusão que visa comprometer todo o sistema. Se atacassem só os fascistas seria uma espécie de limpeza, que até interessaria (risos). Mas o que os terroristas querem é movimentar a opinião massiva. Eles sabem que o sentimento xenófobo vai se exacerbar, e isso pode gerar políticas militaristas de intervenção no Oriente Médio – isso tudo interessa ao Estado Islâmico, um grupo que não está ligado à idéia de construir um Estado, está ligado em construir guerra.

Por que os ataques contra o fascismo não acontecem?
É improdutivo dentro do ponto vista da tática de gerar o terror, a confusão é o que interessa, o irracionalismo. O que embasa o desejo terrorista não é uma construção racional de um coletivo árabe de uma liberdade de expressão, a ideia é outra, de propor uma ideia de guerra jihadista contra o mundo. É uma ideia louca, que é alimentada por Bushes da vida, Olavos de Carvalho da vida. Tentar construir a ideia de um choque de culturas, onde um precisa prevalecer dentro dessa lógica. ‘O que deve prevalecer é o nosso lado, precisamos destruir o outro’.
Qual sua conclusão sobre o atentado ao Charlie Hebdo?
Não existe ainda, tenho procurado ligar os pontos. É aterrorizante o suficiente para abalar as convicções da gente. Agora quais convicções, não sei. De princípio tenho visto que nas exibições de força no facebook, as pessoas se aferram às posições delas e fazem trincheiras de onde atiram.
Tenho tentado entender fora da dor e do sentimento de perda, pois amava e admirava o CH, tento entender politicamente o que está acontecendo. Começam os ataques às mesquitas e restaurantes árabes, ou aos minimercados judaicos… Isso que vai gerar, é um padrão estimulado por grupos de direita que querem construir uma política de exclusão dentro da Europa.

E sobre os acontecimentos de hoje?
A morte dos irmãos? Não tenho o que comentar, sério. Acho que continua em marcha o projeto de irracionalismo.

Como assim?
11/9 salvou a vida do Bush, um político medíocre e desprestigiado que vinha de uma eleição contestada. Foi transformado em herói e abraçou as táticas militaristas e intervencionistas.
Penso porque esses fdp fizeram isso. É que no final das contas o fundamentalismo e os grupos de ultra-direita xenófobos se alimentam. Foram feitos um para o outro. Haja entendimento real ou não, na prática a porra louquice atende ao clamor da porra louquice.
Mas não sei isso é coisa de malucos. Pode ser um jogo muito mais frio do que a gente pensa, e é isso que me aterroriza – ver que não é maluquice. Esse jogo frio pode envolver dinheiro, poder político e controle militar.

Consegue associar este atentado a um fato político da história brasileira?
No Brasil as pessoas foram presas, matou-se gente, pessoas ficaram acuadas. Mas a reação historicamente determinante à ocupação ditatorial se deu quando mataram um jornalista. Na mesma ocasião Manoel Fiel Filho, militante ativista operário foi morto. Todo mundo se comoveu mas não foi decisivo. Decisivo foi terem matado Vladimir Herzog, que era jornalista. Isso foi importantíssimo no jogo cultural que a ditadura estava tentando fazer naquele momento. Hoje sabemos que houve uma tentativa de golpe dentro do golpe, da linha dura, que foi frustrado porque eles foram mais longe do que podiam. Ao mesmo tempo podiam ir menos longe? A lógica deles é de montar canastra. Era o jeito que sabiam jogar.

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A Bela princesa da Tropicália orgânica http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/12/19/a-bela-princesa-da-tropicalia-organica/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/12/19/a-bela-princesa-da-tropicalia-organica/#respond Fri, 19 Dec 2014 14:44:18 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=435 Continue lendo →]]> Bela - posada_44Por Tracy Segal

A bela princesa tropical com seu sorriso largo vive no castelo de Floras e Gils onde cresceu cercada por tios Caetanos, Mautners e outros lordes da nobreza em seus domingos com brincadeiras de violão, de Rosas, Josés, Julianas, tomando sorvete no parque.
Aos 16 anos uma fada lhe aplica a magia da vida e a princesa segue por uma árdua trilha. O chamado é uma prática diária que rasga a realidade até que no seu expresso 2222 vai para as terras longínquas de Nova York encontrar seu destino. As folhas, as frutas com que vai construir seu novo castelo. Essa princesa vira rainha, dá luz a uma Flor com seu príncipe encantado e, na volta, a heroína vem semear na tropicália seus feijões encantados, orgânicos.
Bela Gil descobriu os superpoderes dos alimentos aos 16 anos, em meio a uma adolescência zen. Agora, aos 26, ela diz que quer mudar o Brasil. Apresenta um programa no GNT, “Bela cozinha”, conversando com personagens do mundo das celebridades e oferecendo sua alimentação saudável, desfazendo a imagem hippie da comida “natural” que prendeu as sandálias de couro nos idos dos anos 60. Bela está numa cozinha dos sonhos, com vestidos floridos, aventais coloridos e objetos refinados. É a onda verde que aporta nos mares do Sul trazendo o abacateiro temporão de Gil que deu seus doces frutos.
Bela é formada em Culinária Natural pelo Natural Gourmet Institute e em Nutrição e Ciência dos Alimentos pela Hunter College, ambos em NY. Em entrevista para este blog segreda que viveu na carne a mutação através do alimento: “A gente é o que a gente come. A alimentação mexe muito, a nível celular, muito mais profundamente do que as a outras atividades. Eu acho que alimentação
tem um poder maior. Afeta mais do que a música, literatura, etc. Te purifica.”
Além do programa na TV que já segue para a segunda temporada, acaba de lançar um livro de receitas. Nesse mundo abastecido por prozacs, frontais, açúcares refinados e álcool essa princesa guerreia usando suas armas diretamente arrancadas da natureza, uma descendente da contracultura de Gil, que vem adoçar o mundo veloz com melados, ghees, tofus.
Bela tem se interessado pelas políticas que podem introduzir a culinária nas escolas. “É importante porque a criança perdeu o instinto de cozinhar, plantar. É um instinto importante porque você se torna independente. Uma espécie de micropolítica.”

*

Antes de mais nada, um breve histórico da sua trajetória culinária.
Eu comecei a fazer yoga com 14 anos, aos 16 já percebia que meu corpo começou a rejeitar certos alimentos. Eu percebi que os alimentos tinham poderes, e como afetavam minha prática de yoga.
Com 18 anos eu já tinha certeza do que eu queria fazer: a nutrição, que veio da yoga, e a culinária, porque eu tinha que cozinhar. Eu era outra antes dos 14, 15 anos. Meu pai me deu um livro de Yogananda, “Autobiografia de um yogue”. Com esse livro mudei minha visão de mundo e isso muito devido à alimentação.

Como era a Bela de antes e depois?
Eu era muito ansiosa, nervosa, frágil. Uma pessoa irritada. Com essa mudança me tornei uma pessoa mais compreensiva. Eu aceito muito bem as adversidades. Se está acontecendo é porque tem uma razão pra ser. Não reclamo. Eu era muito inconformada. Desde criança muito mal humorada. E sou muito séria por natureza. A alimentação, os livros, a yoga e a meditação me transformaram numa pessoa mais calma, mais tranquila. Mais agradável.

Foi a comida que te transformou?
A gente é o que a gente come.

Mais do que o que a gente lê, vive, respira..?
A meditação te transforma, em tudo. Mas a alimentação mexe muito, a nível celular, muito mais profundamente do que as a outras atividades. Eu acho que alimentação tem um poder maior, de transformar numa pessoa mais pura. Afeta mais do que música, literatura, etc. Te purifica.

Você não teve a rebeldia na adolescência?
Eu tive a yoga, uma adolescência zen.

Como você se encaixa na sua geração?
Eu me sinto um pouco diferente. É a minha natureza, sou capricorniana. Muito velha, madura, tenho amigos mais velhos, meu namorado é mais velho. Nunca me senti da minha geração. Tenho um olhar pra frente, pro futuro. Acho que faço parte dessa geração de pessoas que querem mudar o mundo para melhor, de forma muito realista.

Como é morar na cidade urbana e ter um estilo de vida saudável?
Um dos objetivos da minha culinária é estreitar o laço entre o urbano e o rural, entre o produtor e o consumidor. Criar uma confiança mútua. Construir hortas urbanas em casas, condomínios. Trazer um pouco da vida rural para a cidade. Cada um cuidando do seu espaço. Explorar menos a natureza, em quantidade.

Você foi a Nova York estudar inglês por 3 meses e ficou. O que aconteceu?
Eu fui pra lá com 18 anos, já praticava yoga e lia muito sobre ayurveda, gostava de cozinhar e fiz vários cursos até que resolvi fazer a faculdade. Então comecei a dar aula, fazer consulta e trabalhar em restaurante.

Como foi essa mudança de NY para cá?
Lá é muito bom porque você tem tudo. Me fez aprender a comer, a entender a gastronomia. Lá você consegue comer a melhor comida de qualquer lugar do mundo. E consegui fazer um link da saúde de um povo com sua alimentação. Tipo, como os japoneses que comem arroz e peixe vivem muito. E lá tem a facilidade de achar os produtos orgânicos e saudáveis. Lá foi bom pela gastronomia mundial e o acesso à comida saudável. Me falavam que no Brasil eu ia sofrer por não conseguir encontrar nada. Mas não, aqui no Rio tenho o circuito de feira orgânica carioca, e como eu gosto de consumir o que vem do local, acho ótimo. A vantagem lá é a facilidade de encontrar esses produtos industrializados, como leite de amêndoas por exemplo – o que eu não quero, então isso é uma desvantagem. Aqui tenho que fazer o leite, Em NY você compra uma caixa por dois dólares enquanto aqui custa vinte reais.

Por que voltou?
Porque eu quero mudar o Brasil, tem muito que mudar. Estando aqui posso impedir essa americanização. Resgatar.

Curioso, porque você está trazendo de lá, dos Estados Unidos, essa cultura.
(risos) Eu estudei lá e foi muito bom. Acho que daqui a 20 anos a gente vai estar vivendo como lá. Andando de bicicleta, usando transporte público, distribuição de comida orgânica, supermercados de comida orgânica…

Você está otimista com a política no Brasil?
Politicamente não, mas acho que estaremos vivendo de forma mais saudável, mais ecológica no futuro. O Brasil ainda está muito focado na estética mas não é isso. Uma alimentação saudável é uma alimentação natural. Ir contra produtos industrializados.

Mas no Brasil temos a questão da pobreza, as pessoas não tem tempo, trabalham 8 horas, fora o deslocamento. Qual a solução?
Cada um faz sua parte. Quem tem poder aquisitivo deve comprar produtos orgânicos. Eu acho que transformando a elite, encorajando-a a usar os alimentos orgânicos, a cultura local ajuda a difundir essa cultura. A classe baixa vislumbra a classe A. Então se a classe A estiver engajada em se alimentar melhor, a classe mais baixa também vai estar. Não podendo, mas querendo. Isso força o governo a subsidiar. O caminho é ter uma elite que se engaja, então o governos se vêem pressionados. Vai ter que ter uma política de incentivo ao produtor orgânico.

Como se dá isso então?
O Alex Atala me procurou por causa da campanha “eu como cultura”. Eu achei legal mas não é tudo. O que eu quero é levar a culinária para as escolas. Tendo a gastronomia e a culinária reconhecida como cultura. Posso começar com pequenos projetos em escolas. Se eles derem certo fica mais fácil pressionar o governo à colocar a culinária no currículo escolar. É importante, porque a criança perdeu o instinto de cozinhar, plantar. É um instinto importante porque você se torna independente. Uma espécie de micropolítica.

E a ditadura da saúde e do politicamente correto?
Não temos. Seria melhor ter essa ditadura do bem, do que no sentido do industrializado.

Qual a sua culinária favorita?
No Brasil, culinária baiana e no mundo é difícil, mas diria que a indiana.

E o mundo profano? Drogas por exemplo?
Eu não distingo a droga da comida. A comida existe pra te dar saúde e pra te tirar saúde. Tudo está linkado com a qualidade e quantidade. Meu pai sempre dizia que a diferença entre o veneno e a saúde é a quantidade. Por exemplo: uma folha verde que é símbolo de saudade, ela pode te trazer saúde ou doença. A couve, rica em clorofila, cálcio, ferro, refogada é ótimo, mas ela crua todo dia pode provocar distúrbios na tireoide. Eu quero mostrar isso. Que tudo tem sua dose, o arroz integral, o álcool, a maconha, que aliás está sendo estudada para cura. É a dose e a situação. Não pode discriminar nem ultra valorizar nada.

Quem é o grande vilão?
Açúcar.

Mais que transgênico?
O vilão mesmo é a indústria. Por que tudo isso está conectado. O açúcar é vilão porque está em todos os produtos, escondido. Um açúcar de vez em quando, carne também, tudo bem. Mas do jeito que está sendo absorvida não dá.

Por que você voltou a comer carne?
Quase nunca como. Mas na minha casa não entra carne. Não dá pra abdicar do prazer da vida.

Como é virar celebridade sendo filha de Gil e Flora?
Eu gosto. Porque eu tento passar saúde, conhecimento, que quanto mais as pessoas me admirarem melhor. A fama é positiva. Eu não fui pra música então ninguém me compara, e não estou me aproveitando. É um lado do meu pai que as pessoas não tem acesso. Meu pai é macrobiótico.

Como foi ser criada por Gil e Flora?
Meu pai. Não poderia ser criada por outra pessoa. Minha mãe também, mas ela é muito dura. A minha personalidade é como do meu pai. E era muito bom, um privilégio ter num almoço de domingo Jorge Mautner, Caetano… Eu valorizo muito isso. Quando você é pequena não entende, são aqueles tios, mas depois que eu entendi a importância… eu pensei: eu sou muito privilegiada.

Religião?
Não tenho. Gosto da espiritualidade. Eu acredito em deus.

Casamento?
Muito bom, tenho uma filha perfeita, um marido perfeito. Sou muito feliz nesta parte íntima, privada, casamento e família. Estou casada há 11 anos.

Envelhecer?
Envelhecer é ganho de sabedoria. Queria eu ter a sabedoria do meu pai. É ganho de experiência, acúmulo de coisas. Acho legal. Pode vir devagar claro, mas eu gosto dos velhos. Acho fofo. Gosto de conversar. Sempre tive amizade com pessoas mais velhas. Não sou boa em ensinar, gosto mais de aprender. E agora estou aprendendo a ensinar, com a idade. Quando a gente é jovem absorve, quando velho ensina.

E a alimentação?
Ela pode funcionar diferente pra cada pessoa. A gente é individual, a alimentação tem que ser explorada diferentemente para cada um.

Você diz que se vê como a filha que segue os passos do seu pai. Seu pai tem uma vida que atravessa a história do país. Queria que você falasse do Gil pai e do Gil homem público. E como você se vê sucessora desse homem marcante em várias esferas ?
Ele é e foi muito importante pra história do Brasil. Eu gostaria de ser uma referência como ele é pra mísica e pra cultura. O Gil pai e o Gil homem público são bem parecidos. Meu pai é uma pessoa calma, determinada, estudiosa. Ele é muito família. Esse bem que ele quer à família se traduz no querer levar música, arte e cultura para todos.

Culinária é arte?
É a arte fundamental da vida!

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Quarteto fantástico http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/12/03/quarteto-fantastico/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/12/03/quarteto-fantastico/#respond Wed, 03 Dec 2014 17:09:32 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=421 Continue lendo →]]> kronos1Por Tracy Segal

Assistir a um concerto do Kronos Quartet, que se apresenta a partir de quinta no Sesc Pinheiros, é uma experiência única. Não seria exagero dizer que a história da música contemporânea seria outra sem a contribuição deste festejado quarteto, que com seus 40 anos de história, 57 álbuns gravados e mais de 2,5 milhões de discos vendidos, continua rompendo barreiras.
Com uma paleta que vai do pop ao étnico, do erudito passeando pelo rock e pela música eletrônica gravada, e tendo composições e arranjos concebidos originalmente por artistas como Philip Glass, o Kronos já dividiu o palco com nomes como Paul McCartney, Allen Ginsberg, Zakir Hussain, Modern Jazz Quartet, Noam Chomsky,Tom Waits, Betty Carter e David Bowie, além de ter participado das gravações de Nine Inch Nails, Dan Zanes, DJ Spooky, Dave Matthews, Nelly Furtado.
O belo e o grotesco, o catastrófico e o humor, são elementos que habitam o universo sonoro do quarteto. A experimentação se estende para o campo visual como por exemplo em uma peça da russa Sofia Gubaidulina, dedicada ao quarteto, em que bolas de plástico vazias são colocadas nos instrumentos, com pontuação de luzes coloridas que lampejam na cena.
Em entrevista para este blog, seu fundador David Harrington conta que iniciou o quarteto sob as sombras da guerra do Vietnam no berço da contracultura americana ouvindo Beethoven e Mozart, sendo despertado por Black Angel de George Crumb. Deste colapso de influências nasce o conjunto que existe há 40 anos e é considerado o Rolling Stones do quarteto de cordas.
“Em 1973 a ideia de um quarteto de cordas era inconcebível para a sociedade americana. Estou acostumado à sensação de eu contra eles. O mais importante é que eu sinta que é certo para mim.”
David se considera um investigador e o quarteto é seu instrumento. “Meu instrumento é o quarteto e não o violino.”
O repertório que trazem para o Brasil conta com composições de grande potência como as de Terry Rilley, velho parceiro do Kronos e um dos pais do minimalismo, que com “Sunrise of the Planetary Dream Collector” abre espaço para improvisações dos músicos e tem peças nos três dias.
O extenso repertório desses três dias vai de Wagner com “Prelúdio de Tristão e Isolda” a uma suíte da trilha do filme “Requiem para um sonho”, e “Flow”, um solo de violino composto pela artista performática Laurie Anderson, viúva de Lou Reed. Da América do Sul essa constelação de sonoridades apresenta duas peças de Astor Piazzolla escritas originalmente para o quarteto e Amon Tobin, brasileiro compositor e produtor de musica eletrônica.
“A música é um mundo vastíssimo que partilhamos. Ao escolher, deixando que a música te leve, você pode expressar como você quer que o mundo seja.”
“Eu não penso cronologicamente, eu celebro o agora. A música nos força a viver o momento que estamos vivos, o agora.”

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Como você descreveria o quarteto?
O melhor seria não descrever e deixar livre para os espectadores experienciarem por si. Tentamos tocar de forma a dar alguma ideia do que está acontecendo com a música do mundo que nos atrai.

E o que os atrai?
Muita coisa, e nunca sei de onde vem o próximo. Por isso gosto de deixar os canais abertos. A música que tocamos tem uma qualidade que nos puxa, magnetizados.

Quando iniciou o quarteto?
Em 1973, logo depois da guerra do Vietnam. Durante a guerra tudo era uma espécie de sombra do Vietnam. A questão era qual a música que expressaria o que vivíamos. Eu ouvia, enquanto criança, os clássicos: Beethoven, Mozart… Na adolescência conheci a música do mundo todo enquanto todos os jovens estavam sendo chamados para o exército, para a guerra do Vietnam.
Como expressar nossa revolta? Mas em 73 ouvindo Black Angel de George Crumbs soou certo. Era o mundo da música composta, parecia Jimi Hendrix. Demorou um tempo para juntar o quarteto. Mas em 1978 ele já existia.
A gravadora Sony já está há dois anos com a gente. Somos muito gratos e o futuro é vibrante. Hoje sou o único da formação original.

Sua música é política?
Tudo é política, toda escolha é política. Se por ser político você quer dizer fazer algo por aquilo que você quer que o mundo se torne. A música é um mundo vastíssimo que partilhamos. Hoje temos acesso à música de muitos lugares.Ao escolher, deixando que a música te leve, você pode expressar como você quer que o mundo seja.

O quarteto se chama Kronos, que é o titã pai de Zeus representando o tempo que devora seus filhos. O que é o tempo na música de hoje para você?
Nunca teve um tempo como este. Nestes concertos em SP vamos tocar composições do mundo todo de várias épocas. Concertos podem ser celebrações da criatividade. Eu não penso cronologicamente, eu celebro o agora. A música nos força a viver o momento que estamos vivos, o agora. Podemos tocar uma música antiga e imaginar o futuro.

Quais os planos daqui em diante?
Nos próximos meses estaremos envolvidos num novo projeto de uma música sobre o genocídio armênio em 1915, quando o governo turco matou centenas de milhares de armênios – este evento deu a Hitler a ideia do holocausto. Nós vamos explorar esta música e ao mesmo tempo celebrar o aniversário de 80 anos do Terry Rilley, que é uma pessoa extremamente generosa com sua música. Nós vamos tocar suas 28 peças.

Para onde caminha a música contemporânea?
Cada um está no seu próprio trilho. Coletivamente podemos criar um conjunto, mas cada um no seu trabalho individual. Ontem mesmo, minha filha colocou o disco novo da Sinead O`Connor para eu ouvir, achei incrível.

Qual a importância do aspecto visual dos concertos?
As pessoas vêm ver o concerto. Parte da música é assistir ela sendo feita. Por séculos os intérpretes se preocupam com o aspecto visual. É muito importante.

E a música americana?
O mundo da música americana é muito vasto. Temos influência do mundo todo. Quando pesquiso sobre minha cultura vejo os chineses, mexicanos, europeus… o absurdo das políticas anti-imigrantes é que a riqueza da nossa cultura vem exatamente destas influências.

Como você vê a influência do mercado?
Eu me preocupo com o que é satisfatório para mim. Em 1973 a ideia de um quarteto de cordas era inconcebível para a sociedade americana. Estou acostumado à sensação de eu contra eles. O mais importante é que eu sinta que é certo para mim. No disco da Sinead O`Connor ela dedica o disco a ela própria, muito honesto. Cada um sabe o que é bom pra si. Música é algo muito pessoal.

Vocês são muito populares. Como é lidar com isso?
Aconteceu tão lentamente que eu mal percebi as coisas acontecendo. A maneira como a música acontece é muito pessoal, conecta uma pessoa de cada vez, que é o que mais amo. O som de dois violinos, uma viola e um violoncelo é único, privado. Essa formação foi inventada em Viena do século 18 e ainda mantém esta qualidade única tão incrível. Meu instrumento é o quarteto e não o violino.

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A reforma política segundo Marcelo Freixo http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/11/27/a-reforma-politica-segundo-marcelo-freixo/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/11/27/a-reforma-politica-segundo-marcelo-freixo/#respond Thu, 27 Nov 2014 17:09:16 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=415 Continue lendo →]]> freixoPor Tracy Segal

Durante a ressaca pós-eleição onde um dos grandes saldos é a polarização com uma onda conservadora insuflando um impeachment e até ressuscitando a ditadura militar, fui conversar com o deputado estadual Marcelo Freixo do PSOL, que iniciará seu terceiro mandato na ALERJ, onde hoje preside a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania.
O debate sobre a corrupção assumiu o protagonismo nessas eleições e continua estampando a capa das revistas e dos jornais. Marcelo Freixo foi muito criticado ao apoiar Dilma no segundo turno em meio à onda dos escândalos, questionamento que ele considera expressão de uma ‘despolitização’.
“Eu refleti muito sobre a corrupção como carro-chefe do debate político. Isso é o resultado da despolitização da política, quando você não entende qualquer mecanismo político e leva para o comportamental.”
A urgência da reforma política para a democratização do Estado foi o tema central desta conversa – “corrupção a gente combate com reforma política” -, sendo prioritário na reforma política o financiamento público de campanha e o voto em lista com dois turnos.
“Com o financiamento público de campanha empreiteira não compra mais prefeito, não compra mais governador. A disputa política tem que ser feita a partir do projeto político e não de quem se vendeu.”
A crise de representatividade na política nacional se fez presente nas manifestações de junho, e o deputado que tem grande possibilidade de sair candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2016 propõe um projeto político de campanha atravessado pela população, com participação direta durante a campanha discutindo pontos de interesse.
“Quem ganhou a eleição no Rio de Janeiro foi o não-voto (35,8% da votação total), enquanto o Pezão ficou em segundo (55,78% dos votos válidos). Isso mostra que o modelo esgotou. A grande aliança que eu vou costurar em 2015 não será com nenhum partido, será com a sociedade civil.”
Crítico à atual gestão do Rio de Janeiro, Freixo considera que a cidade virou palco de negócios, aponta os problemas reais com o sistema policial e as famosas UPPs que têm seu erro na origem, de acordo com ele.

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Qual seu balanço sobre as UPPs no Rio de Janeiro?
As UPPs não surgem como um projeto de segurança pública, com os critérios da segurança pública. Temos uma polícia com a mesma concepção de guerra, do inimigo e não uma polícia de proximidade. Desde as condições de trabalho e tudo que envolve a polícia, à hierarquia e à militarização.
O mapa das UPPs não segue o mapa da criminalidade e da segurança pública, mas dos investimentos, dos que pagam, da cidade-negócio. E se fosse ter uma UPP em cada favela a polícia do Rio de Janeiro teria que ser maior do que o exército dos EUA e Israel juntos, é inviável.
Quando o Estado não entra com a possibilidade de garantia de direitos ele joga sobre a polícia a possibilidade do conflito. Você não avança nos direitos, e não avança com a democracia. O morador acaba se dirigindo à polícia com assuntos que não dizem respeito à polícia, como por exemplo, pra falar sobre coleta de lixo, sobre fazer uma festa. Você não traz uma nova relação com as pessoas.

Existe uma possibilidade real de você se candidatar à prefeitura do Rio em 2016?
Depende de uma decisão partidária, mas é bem provável que eu saia candidato pelo PSOL. Fui candidato na última eleição e fiquei em segundo lugar com 29%, uma votação expressiva. Só não houve segundo turno porque teve uma concentração de forças políticas, o Eduardo Paes teve um apoio de 22 partidos com 16 minutos de TV enquanto eu tive um minuto apenas.
A gente acaba de sair de uma eleição muito vitoriosa, fui o deputado mais votado do Brasil com 350.408 votos.
Hoje nós temos uma bancada com 5 deputados estaduais. o nosso candidato – Tarcisio Motta – ao governo saiu do completo desconhecimento pra ser a grande surpresa da eleição, com uma votação na cidade do Rio de Janeiro que foi o dobro do candidato do PT.
Eu não fui o mais votado só na zona sul, eu fui o mais votado em diversas áreas, inclusive de milícia onde eu sequer pude colocar o pé.
Fui o deputado mais votado com o menor custo. Eu não gosto desse cálculo porque ele é perigoso, mas a imprensa fez. Se você faz o cálculo do total de votos por quanto eu gastei, cada voto meu saiu a 61 centavos. Isso porque existe a alternativa da rede social.

Há a possibilidade de coligação com o PT na eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016?
Com determinados segmentos do PT, não necessariamente no todo. Quando eu fui candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2012 teve uma parte do PT que me apoiou, chamavam os ‘petistas com Freixo’, eu acho que essa fração pode ser maior na próxima eleição. Mas não sei se isso faz com que os partidos se aproximem. Atualmente o PT apoia o prefeito Eduardo Paes.

Qual a estratégia de campanha para 2016?
Não quero me reunir em cúpulas partidárias, fazendo o velho troca-troca, do escambo político de tempo de TV por cargos. Esse modelo faliu.
Em 2015 nós vamos formar um grupo de trabalho, de estudo, com pessoas de várias áreas do Rio de Janeiro para fazer um esqueleto de um projeto de cidade que é algo muito maior que o PSOL.
Que cidade a gente quer? A cidade do cimento ou do sentimento? A gente quer a cidade do sentimento.
Radicalizar a democracia, ampliar a capacidade das pessoas de participação na vida pública.
E no segundo semestre de 2015 esse esqueleto vai paras as redes sociais pra que isso se multiplique num grande debate, para que cada cidadão possa dar sua opinião, por que isso dá um sentimento de pertencimento. Como diz o Neruda a vida é uma escolha, as consequências cada um que arque com as suas.

As manifestações de junho foram uma mudança de paradigma, para o bem e para o mal. Surgiu uma onda reacionária. Qual a relação?
A despolitização da política causa isso. Um exemplo é o debate da corrupção. Como sou uma pessoa muito marcada pelo enfrentamento à corrupção fui questionado ao ter apoiado a Dilma no segundo turno. Diziam que eu apoiei a corrupção. Como se o PSDB fosse a referência ética do Brasil!
Corrupção a gente combate com reforma política. O debate é pedagógico. Eu refleti muito sobre a corrupção como carro chefe do debate político. Quando não se entende qualquer mecanismo político se leva para o comportamental.

Sobre a questão da representatividade nas manifestações – apareceu uma ojeriza à representatividade?
A crise de representatividade era a expressão da despolitização da política e do nacionalismo exacerbado. Uma sociedade que bota um milhão de pessoas na rua, bota de tudo na rua. E o resultado foi que levou a um congresso mais conservador. Se você despolitiza a política o que vai determinar é o poder econômico, o poder do voto religioso, dos centros sociais, cada vez mais conservadores. Você tem as emissoras e o poder econômico.

E o partido Podemos na Espanha?
É novo, muito novo. A gente ainda está tentando entender, eles próprios do Podemos ainda estão tentando entender diante da velocidade com que as coisas aconteceram. Mas a Espanha tem um índice de desemprego altíssimo, de desencanto completo com a política da representatividade. A taxa de desemprego entre os jovens chega a 50% na Espanha. É entre os jovens que o Podemos dialoga e cresce. E o Podemos, assim como o PSOL, tem uma inversão de pauta familiar, onde o filho influencia o voto do pai. A juventude começa a ser o protagonista na política.

Como funciona a estrutura partidária do Podemos?
Eles trabalham com uma rotatividade maior. Eles têm um programa muito parecido com o que a gente está querendo fazer, que se chama movimento. Não vamos apresentar um programa de governo feito por meia dúzia de especialistas. Teremos um debate permanente colocado no circuito das ideias alcançando um maior número de pessoas.

Isso dialoga com a reforma política. Quais são os pontos prioritários da reforma política?
Número um: financiamento público de campanha.
A luta política é pedagógica. Hoje no Rio de Janeiro as pessoas não sabem dizer o nome de 5 vereadores. Isso é um absurdo.
É uma luta de construção de olhar, de construção de possibilidades, de consensos. E a reforma política está muito longe do debate cotidiano das pessoas. Elas pensam que isso é coisa do político. Delegam até que explode, então nada os representa. Eles sabem muito mais o que não querem do que o que querem. Pra construir um projeto político eu tenho que que ter política na cabeça. A indignação é muito importante mas não leva a lugar nenhum. O que aconteceu em junho são sentimentos, não manifestações. Manifestação é saber onde eu quero chegar.

Mas foi um começo.
Sim um começo extraordinário e que se espalha. Altera comportamentos, altera reações. Para financiamento público de campanha é decisivo. Você não pode continuar tendo empreiteiras financiando campanhas.
Se eu tiver que elogiar o governo do PT vou falar do salário mínimo, da redução do número de miseráveis. Mas isso não pode acontecer exclusivamente pela via do acesso ao mundo do consumo, tem que ser acompanhado de uma mudança institucional de serviços de qualidade, de educação, saúde e transporte, que não aconteceu. O SUS, que é um avanço, é inviabilizado quando se destina o dinheiro para os bancos. O BNDES hoje é um captador de dinheiro público para beneficiar os financiadores de campanhas.
Quem tem a gestão dos trens da Supervia no Rio de Janeiro é a Odebrecht, a gestão do metrô é a OAS, das barcas Rio Niterói é CCR, ou seja as empreiteiras tem a gestão de toda a mobilidade urbana do Rio de Janeiro. São as empreiteiras que financiam as campanhas, quem determina o tempo que você vai gastar da sua vida no deslocamento são as empreiteiras.
Como a gente disse na campanha: quem escolhe a música é quem paga a orquestra. A música que o Pezão canta, que o Eduardo Paes canta, que o Cabral cantou nos cabarés parisienses, quem paga a orquestra são as empreiteiras. Com o financiamento público de campanha empreiteira não compra mais prefeito, não compra mais governador.

E o formato?
Isso não pode acontecer isoladamente. A proposta apresentada pela CNBB e pela OAB em que foi feito o plebiscito no dia 7 de setembro, propõe o financiamento público com voto em lista e a eleição do voto em lista no Parlamento em dois turnos. Isso é interessante, porque na Europa o voto em lista, onde o partido determina quem está na frente, está numa crise de representatividade muito grande. Essa burocracia partidária, tanto da direita quanto da esquerda estão muito cristalizadas, gerando um afastamento muito grande do conjunto de desejos da sociedade.
A proposta da reforma política da OAB e da CNBB é que se defina um partido, onde eles terão que dizer o que eles pensam – hoje boa parte das mais de 30 legendas não pensam nada, são legendas de mercado, que alugam e fazem uma grande ciranda financeira. O Eduardo Paes tinha apoio de mais de 20 partidos, que ele não saberia nem nomear e, se perguntasse o que cada partido desse tinha como eixo central, seria risada. São legendas criadas para serem vendidas, para gerar tempo de TV. Eu sou contrário à coligação na proporcional, ou seja coligação pra deputado.
A sociedade vai votar nos programas do partido e no segundo turno se votaria para alterar a ordem da lista. No primeiro turno vota na legenda e no segundo turno no candidato. Isso funciona casado com financiamento público de campanha. Assim você quebra a burocracia partidária.

Como vai funcionar na prática a democracia direta, com a reforma politica e como aprovar com esse Congresso?
Muito difícil. Ainda não sei o tamanho dessa onda conservadora, se é só uma onda ou um tsunami. Ela é preocupante porque nasce como antipetismo, por erros e acertos do PT, mas é também anti qualquer projeto de esquerda. Quem dera que o PT fosse aquilo de que ele está sendo acusado!
Onde a gente mais pode avançar hoje, concretamente, é no debate das cidades, no modelo de organização. A gente vive a cidade, não vive o país. O modelo de orçamento participativo já é uma coisa antiga, é preciso fazer com que os moradores de cada bairro possam opinar sobre, por exemplo, o transporte de sua área.
Ter espaços de debates criados pelas prefeitura para resolver os problemas que cada bairro tem. Temos que ampliar o canal de escuta para que chegue na câmara, na prefeitura. A partir disso você vai dar um sentimento de pertencimento.
Eles que me acusam de bolivariano, mas isso acontece em Nova York e em Berlim mais do que na Venezuela. Não é possível que a gente não consiga ampliar a democracia pelas redes virtuais.

Como lidar com essa onda reacionária? O preconceito histórico do Brasil está exposto como nunca esteve, com isso o absurdo também fica exposto.
Os fascistas saíram do armário. Eu me posicionei publicamente no plenário com o jornalista que chamou os nordestinos de bovinos. Lamentei o desconhecimento histórico dele. Ele queria que o nordeste votasse em quem? E ninguém quer falar da eleição em Minas e no Rio que foi onde definiu a eleição.
O debate entre a direita e esquerda sempre foi mais no viés econômico. Agora surge uma disputa social de uma concepção de sociedade, há um debate social sobre as cotas, programas das bolsas, dos conselhos, isso é ruim.

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Um anti-herói russo na América http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/11/22/anti-heroi-russo-e-americano/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/11/22/anti-heroi-russo-e-americano/#respond Sat, 22 Nov 2014 08:33:48 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=410 Continue lendo →]]> new-photo-shteyngart-brigitte-lacombeGary Shteyngart é um dos principais representantes da nova literatura americana, sendo que Gary não é americano e nem se chama Gary.

“Fracassinho” (editora Rocco) narra a trajetória do escritor, fugindo de uma asma que lhe rouba o fôlego, quando seus pais emigram de Leningrado (atual São Petersburgo), trocados por grãos -o presidente Jimmy Carter fez um acordo com o governo de Moscou pelo qual a imigração de judeus russos seria facilitada, desde que os americanos garantissem uma remessa de cereais para a antiga União Soviética.

Assim, Gary e seus pais aterrissam nos subúrbios de Nova York em 1978.  Um mundo de ficção científica se abre aos olhos do pequeno Igor, que seria renomeado Gary numa tentativa de aproximá-lo do mundo anglófono e evitar a xenofobia.

“Vir para a América depois de uma infância passada na União Soviética é o equivalente a tropeçar de um penhasco monocromático e pousar em uma piscina de puro Technicolor”, escreve o autor, que já em seu livro de estreia “O Pícaro Russo” ganhou notoriedade, seguido pelos romances “Uma história de amor real e supertriste” e “Absurdistão”.

Filho da tradição judaica do humor autocrítico, em sua obra Gary encontra a persona forte na piada, no absurdo, no sarcasmo ferino – e essa ferramenta de sobrevivência acaba por salvá-lo.

Em “Fracassinho”, ao contrário dos outros três livros, o autor abdica da máscara da ficção e escreve francamente em primeira pessoa. “Foi uma chance de juntar um registro do que era ser uma criança crescendo sob um poder decadente e mudando para outro poder decadente, no final do século 20”, diz Gary, em entrevista à Folha.

“Como escritor, dei sorte de nascer em tempos terríveis”, acrescenta.

Não à toa o autor considera Woody Allen e Philip Roth dois grandes professores: “Allen me ensinou o humor, e Roth me ensinou a tristeza. Com eles, minha educação está completa”.

Os pais judeus imigrantes e republicanos, seriam caricaturas se Gary não os redimisse com sua visão multifacetada, em que momentos de humor, ternura e melancolia se alternam.

‘Fracassinho’ a propósito é o apelido que seus pais lhe aplicam, pela falta de aptidão do filho para profissões clássicas como direito, finanças ou medicina. ‘Urso fedido’ e ‘melequento’ são outros.

“No meu caso, ter sido chamado de “o ursinho russo fedido” na infância produziu em mim um monte de literatura como adulto”.

Essa figura patética do perdedor que nas terras ianques tem peso dois, é louvada com ironia e perspicácia por Gary. A criança débil, alienígena e pobre faz sua escalada pelos muros do capitalismo multicolorido.  Sua cultura dostoievskiana não valeria muita coisa na escola judaica onde começaria sua luta por um encaixe na sociedade do fast food.

Na verdade o livro começa com um ataque de pânico do autor ao ver a foto da igreja Chesme em São Petesburgo, sua terra natal, alçando-o para a psicanálise e finalmente ao reencontro com a terra perdida de sua origem.

“A América tem obsessão com vencer. Eu quero fazer o fracasso voltar a ser legal. Esse é meu motto: Fracasso é uma opção. Em outras palavras, você não precisa trabalhar no mercado financeiro”, diz o autor.

Com a visão do homem excluído, desencaixado, revolvendo suas neuroses familiares na Nova York  das últimas 3 décadas, e assombrado pelos fantasmas de um passado soviético tão presente em sua casa, Shteyngart vive a guerra fria  em sua própria carne.

Ele tem que se reinventar. Brota desta cisão a sobrevivência de um indivíduo que se sabe não pertencente, que se sabe à parte. Sua sensibilidade russa traz o tom cinza de São Petesburgo, e o humor judaico nova-iorquino ganha as cores fortes dos pacotes dos cereais matinais.

A odisséia de um anti-herói onde o fracasso é êxito.

*

Seus outros livros são, de certa forma, autobiográficos. Por que a iniciativa de abdicar da máscara da ficção e mergulhar numa autobiografia de fato?

Bem, eu tinha 41 anos quando “Fracassinho” foi publicado. Para um homem com genes russos isso já pode ser considerado velho.  A maioria dos homens russos morre aos 60 anos. Achei que era a hora de fazer. Mas também era uma chance de juntar um registro do que era ser uma criança crescendo sob um poder decadente e mudando para outro poder decadente, no final do século 20. Considerei que era algo importante o suficiente pra escrever de forma honesta, como não-ficção.

Em que medida as memórias são importantes para a sobrevivência?

Os livros já estão desaparecendo, e acredito que rapidamente textos serão totalmente substituídos, quase por completo, por imagens. Saberemos como parecíamos e o que víamos, mas talvez não recordemos como sentíamos, o que nos tocava. Uma das coisas mais humanas que podemos fazer é manter um jornal de nossas vidas e do mundo ao redor. Eu tive sorte que meus pais guardaram tanta coisa de meus primeiros escritos, mesmo sendo bobo como era.

Seus pais leram o livro? Como reagiram?

O inglês deles não é tão bom, então eles esperam a tradução para o russo.

Sua escrita tem uma observação muito perspicaz do mundo. Ser um imigrante, te dá uma autoconsciência mais profunda, um ponto de vista com distanciamento?

A literatura americana é, em geral, a literatura do de fora, o que inclui os imigrantes de certa forma. A sensação de deslocamento e a necessidade constante de imitar a cultura nativa acaba desenvolvendo as habilidade de observação. No meu caso, ser chamado de “o ursinho russo fedido” na infância produziu em mim um monte de literatura como adulto.

Na sociedade americana o jogo do perdedor-vencedor é uma questão importante. “Fracassinho” pode ser considerado a vingança do perdedor? Estamos vivendo um novo tempo onde se assumir perdedor é um ponto de virada?

A América tem obsessão com vencer. Eu quero fazer o fracasso voltar a ser legal. Esse é meu motto: “Fracasso é uma opção.” Em outras palavras, você não precisa trabalhar no mercado financeiro.

Quem são seu autores prediletos hoje?

Chang-rae Lee, Junot Diaz, Zadie Smith, David Bezmosgis, Jhumpa Lahiri. Ou seja, vários outsiders, a maioria dos quais com nomes bem engraçados mas nenhum tão impronunciável quanto “Shteyngart”.

Você acredita que as barreiras culturais estão mais leves hoje em dia?

Nos EUA as pessoas não gostam de ler literatura traduzida, porque isso é um tanto estrangeiro demais para nós. O escritor imigrante, por outro lado, está seguro, porque ele ou ela é um de nós, e geralmente fala inglês melhor do que a maioria dos nativos nascidos na América. Seus pais simplesmente cozinham rotis ou blinis ao invés de hambúrgueres.

O que significa ser um judeu hoje em dia?

Significa viver numa cidade grande, contando um monte de piadas para milhões de outro judeus a sua volta e indo a sinagoga uma vez a cada 20 anos.

Como você explicaria a ideia de um judeu que se odeia, que você menciona no livro?

Muitos judeus de direita costumam chamar os judeus que são críticos a qualquer aspecto de sua criação judaica ou ao governo de Israel como judeus que se “auto-odeiam”. Eu me amo um bocado. Acabei de me abraçar após ter pronunciado esta última sentença.

Como comparar a vida na antiga União Soviética e nos Estados Unidos?

Aterrissando em Nova York em 1979 foi minha primeira experiência com ficção científica. Vendo um Chevrolet Corvette, depois de ter crescido com carros Ladas na União Soviética,  achei que era um avião sem asas.

O que acha de Vladimir Putin e a vida na Rússia de hoje?

Como se diz “Jackass” em português?

O humor e a sátira: quais são as funções deles em sua obra e em sua vida?

A sátira funciona melhor quando o mal e a estupidez colidem, e essa é a definição do governo na Rússia e, muitas vezes, nos EUA também. Como escritor, eu dei sorte de nascer em tempos terríveis.

Woody Allen e Philip Roth: que acha deles e que outros autores lhe servem como inspiração?

Dois grandes artistas e professores. Allen me ensinou o humor, e Roth me ensinou a tristeza. Minha educação está completa.

Você é um freudiano de carteirinha, no que diz respeito à influência de seus pais?

Eu não acredito que alguém seja puramente freudiano hoje, tantos excelentes pensadores vieram depois dele, sem mencionar os medicamentos excelentes. Mas muitas das ideias base parecem coerentes. O romance familiar é o maior drama para o qual nascemos. Gastamos boa parte do resto de nossas vidas vagando pelos cômodos figurativos nas mansões de nossos pais, tentando decifrar quem eles são, e por extensão, quem somos nós.

Você é ativo no twitter e conhecido compilador de frases de orelha dos livros (blurbs). Twitter e blurbs são baixa literatura? Em que medida a tecnologia joga a favor da literatura?

Eu tive que abdicar um pouco do meu blurbing, mas já fui muito ativo. Eu até fiz um slogan para um cheeseburger uma vez. Eu acho que é uma espécie de fenômeno americano. Nós gostamos de nos elogiar uns aos outros. Eu acho que a experiência tecnológica vai aos poucos empurrar a literatura para a beira, a imagem vai conquistar o mundo. Mas essas coisas vem em ondas. Levou um tempão depois do colapso de Roma para surgir um Dante. Talvez em 800 anos pessoas voltem a gostar de literatura!

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Os lunáticos estão de volta http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/11/07/os-lunaticos-estao-de-volta/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/11/07/os-lunaticos-estao-de-volta/#respond Fri, 07 Nov 2014 12:56:32 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=403 Continue lendo →]]>  

O Luni hoje...

O Luni hoje…

Em cima da esquerda para a direita: lelena anhaia , natalia barros, marisa orth e fernando figueiredo Embaixo da esquerda para a direita: gilles eduar, lloyd bonnemaison e andré gordon No centro: theo werneck

… e no século passado: em cima da esquerda para a direita, lelena anhaia , natalia barros, marisa orth e fernando figueiredo
Embaixo da esquerda para a direita: gilles eduar, lloyd bonnemaison e andré gordon
No centro: theo werneck

Dentro da história da vanguarda paulistana dos anos 80, o grupo Luni ocupa um lugar especial. Reunindo integrantes vindos de áreas tão distintas como arquitetura, artes plásticas, teatro ou literatura, além da música obviamente, o Luni ganhou os palcos alternativos da cidade e projetou uma geração de artistas que tem em Marisa Orth sua mais conhecida expoente. Foram mais de 200 apresentações em saudosos espaços como o OFF, o Mambembe ou o Madame Satã.

“O Luni marcou uma época. Nossos encontros eram muito criativos, abriram nossas cabeças”, diz Marisa.

Por tudo isso, não deixa de ser histórico o reencontro dos oito lunis, mais de vinte anos após a dissolução do grupo, marcado para hoje no Auditório Ibirapuera, com direito a participação de convidados como os contemporâneos dos Mulheres Negras e Fábrica Fagus, além das projeções de oito VJs em um telão, Ruth Slinger entre eles.

O grupo, que se tornou nacionalmente conhecido com o “Rap do rei”, da abertura da novela “Que rei sou eu?”, chegou a fazer uma turnê de revival em 2002, no teatro Sesc Pompeia. Mas a apresentação desta noite tem um gosto especial. Traz duas composições inéditas e uma homenagem a Vange Leonel, que morreu em julho deste ano.

Difícil de classificar o tipo de som que o Luni fazia. Natália Barros, uma das mentoras do grupo, situa o Luni em um espaço pós-Asdrubal Trouxe o Trombone, pós-Arrigo Barnabé, pós-Itamar Assumpção.

Aliás não era só som – havia performance, na época chamada de multimídia, e não era pouca. De dança, de circo, teatro, percussão ou luzes fosforescentes… de maneira que não seria impreciso tratar as irreverentes apresentações do Luni como precursoras do que são os coletivos artísticos de hoje.

Caio Fernando Abreu, fã de carteirinha do Luni, escreveu, em 87: “o Luni é elegante sem ser afetado, culto sem ser pedante, engraçado sem ser bobo, bonito sem ser vaidoso, ensaiado à perfeição, sem ser mecânico, chique sem ser esnobe, brega sem ser cafona”.

Acrescenta Caio, “porque é um som que você pode dançar, e também ver. Marinheiros, prostitutas, mariachis, astronauras, brazilianistas, robôs, crianças fazem número. Passam alegria (que raro), saúde (oba!), vontade de viver (wow!). Quer mais luxo?”.

A Folha acompanhou um ensaio na última terça-feira. O repertório do show será basicamente composto pelas músicas do único CD gravado pelo grupo. Alguns arranjos originais foram preservados e outros ganharam releitura. O uso da bateria eletrônica e do teclado D50, com acento que remete tipicamente aos anos 80, deram espaço para novas experimentações.

“Tínhamos e ainda temos uma identidade que sempre nos uniu. Mesmo nesses anos fora do palco, sempre estivemos próximos”, lembra Natália, que antes do Luni participou da fundação do grupo teatral XPTO e hoje atua principalmente como poeta e paisagista.

Quanto a alguns dos outros membros do coletivo, André Gordon é hoje web designer em Nova York, Fernando Figueiredo é produtor musical, Gilles Eduar virou um bem-sucedido escritor de livros infantis. Marisa Orth está no ar em Dupla Identidade, na Globo, e no programa Almanaque Musical, no Canal Brasil, e Theo Werneck formou um trio de blues, depois de ter atuado como DJ de Luciano Huck na televisão.

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"Todo dia é 68 pra mim" http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/30/todo-dia-e-68-pra-mim/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/30/todo-dia-e-68-pra-mim/#respond Thu, 30 Oct 2014 17:14:18 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=399 Continue lendo →]]> ze1Por Tracy Segal

Num fim de tarde na árida São Paulo me encontrei com Zé Celso pisando o chão lendário do Teatro Oficina. Uma conversa com Zé é uma odisséia pela condição humana. O pretexto mais do que urgente é a reforma do Teatro Oficina, que vive mais uma batalha de uma saga que passou por um incêndio e brigas com o grupo Silvio Santos para sobreviver aos desmandos burocráticos nesta luta, desde 1958, contra a desumanização da vida. “São Paulo já é uma cidade asfixiante.  São Paulo precisa desse vazio.”

O teatro é obra de Lina Bo Bardi, que construiu o MASP e o SESC Pompeia, e neste ano comemora seu centenário. Arquiteto Lina no masculino, Zé relembra que ela gostava de ser chamada de arquiteto. “Porque ela se dizia anti-feminista, ela era muito provocadora. Ela realmente não gostava de mulherzinha arquiteta. Dizia: Eu sou arquiteto, é uma profissão que não tem sexo, é outra coisa. O nome dela é Achillina, que em italiano é águia.”

“Aqui é um processo natural de 55 anos, que não é levado em conta. É a companhia mais longeva do Brasil, mais conhecida no mundo. Está acontecendo uma involução no Brasil, com essa história do desaparecimento da cultura. Sobrevivemos à ditadura, mas a geração que se formou na ditadura desaprendeu muita coisa com a moral e cívica.

Nossa peça, o Robogolpe, começa com o suicídio do Getúlio. Eu devo minha vida a esse suicídio. O cinema novo, a bossa nova, todos devem a esse suicídio. Porque deslanchou uma época de maior liberdade, foram 10 anos maravilhosos. Não tinha burocracia, a cultura tinha um prestígio enorme.

Foi um momento cultural muito forte, que ultrapassou a ditadura, a gente superou o resistir, foi o re-existir, inventar estratégias novas porque a arte atravessa tudo, e superando até a visão de uma esquerda extrema, cuecona.

Mas o que o Fernando Haddad está fazendo é maravilhoso. Aqui em São Paulo está maravilhoso. Ele vê essa cidade que nós vemos, ele prestigia a cultura enquanto a Secretaria do Estado destruiu.

São Paulo é a capital do capital.”

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O capitalismo é mais devorador do que a ditadura?

Não é um inimigo concreto. Hoje temos a especulação imobiliária. Ele pega a cabeça das pessoas. Tem hoje um fascismo popular. Hoje a esquerda está com todas as melhores causas, ambientalismo, punições da homofobia, liberdade da mulher, legalização das drogas… enquanto a direita é maioridade penal, privatização…

Eu não sou de partido nenhum, eu sou de esquerda, gosto da esquerda, tenho contradições mil com o PT, mas apesar disso acho que é o melhor partido que existe no sentido da real politique.

O PSDB foi um partido maravilhoso, de intelectuais da USP de centro esquerda, agora é um partido de direita. Foi o próprio PSDB que desapropriou o teatro para que não fosse para as mãos do Silvio Santos, em 1984, durante a ditadura, enquanto eu estava no exílio.

Aliás é lamentável que o Alckmin tenha ganho.

E o teatro brasileiro atual?

Tá difícil. Citando Henriete Morineau: “o teatro recuou, meu filho…”.

Os que estão realmente fazendo teatro, estão fazendo em lugares precários. É o problema da especulação imobiliária e da burocracia Stalinista. Stalinista! Stalinista! A Secretaria da Cultura do Estado é um Stalinismo explícito, é a burocracia irmanada com a especulação financeira. Kafka. Eles procuram destruir tudo que é vital, teatro, floresta.

O teatro nos faz ver o mundo. Tudo é espetáculo. O espetáculo das pessoas como fantoches do mercados e da pior cultura americana, é uma loucura. O Brasil tem uma puta cultura nacional reconhecida no mundo.

Os americanos estão absorvendo a cultura do mundo, inclusive a nossa, e nós reproduzindo pastiche.

Essa religião evangélica que faz apologia do capital, totalmente ideológica.

Felizmente entrou um papa mais porra louca, franciscano. Mas eu não gosto mesmo assim. A igreja tem que pedir perdão pelo que fez com a sexualidade do ser humano, uma violência, uma inquisição, a castração, que os evangélicos levam as últimas consequências.

E a política cultural no Brasil?

O problema do Brasil é que entraram os intermediários com a lei de incentivo. De burocratas que querem negociar e levar 20%. Os atores globais se tornaram commodities, eles agregam capital. Você coloca o ator global e consegue um patrocínio grande, é indiferente se tem algum sentido cultural.

E o tempo Zé?

Que tempo?

O tempo. Você com 77 anos, como é o tempo?

O tempo pra mim é uma coisa indomável. Está correndo muito depressa, girando muito rápido, e eu tenho muita coisa a fazer. Eu sofro do coração. Eu tenho que me poupar, mas eu não consigo.

(Zé canta) Perguntei ao coração se devia descansar, ele disse que não, que não devia.

Eu não consigo. O estresse é a grande praia aqui em São Paulo, é o estresse do trabalho.

E a morte?

A morte? Ela me ronda, pelo fato de ser cardíaco. O que me sustenta é o estresse. O que não me deixa morrer é o estresse e o prazer de fazer teatro.

As pessoas pensam que eu quero ser o fazendeiro, o manda chuva dessa cidade. Eu não tenho nada, nenhuma propriedade, pago aluguel.

Você tem o teatro Oficina, não?

Não. Quer dizer, aqui é minha vida misturada com minha obra.

O artista tem que devorar o mundo, pra não repetir, pra tornar ela nova, sempre.

O trabalho nosso em 68 foi descolonizar, quando Oswald nos remeteu aos indígenas, ao candomblé, à cultura pop, tudo misturado. O teatro revolucionou. Não era mais Stanislavski ou Brecht, era o Oswald de Andrade.

O caminho até chegar materialmente neste espaço, visando o teatro de Estádio.

*

O teatro de Estádio é o projeto completo de Lina para aquele espaço do Teatro Oficina.

Zé conheceu Lina duas vezes.  No primeiro encontro com essa “diva” italiana, Zé era um garoto saído da faculdade de direito de terno, gravata e guarda-chuva. Encontrou Lina numa boate chique de Copacabana.

“Ela era linda. Eu ainda era muito tímido. Era 1962. E ela só me olhou, eu olhei pra ela. Era insuportável o olhar daquela mulher linda.  Ela olhava de baixo pra cima, aquele olhar malicioso.”

Lina morava na Bahia, e acompanhava o diretor Martim Gonçalves, diretor da Escola de Teatro da Universidade da Bahia, uma escola de vanguarda da época frequentada por uma geração que se destacaria, entre os alunos Glauber Rocha.

“Depois do golpe de 64, ela foi expulsa da Bahia, a escola de teatro fechou, essa coisa toda que aconteceu com o golpe. Ela veio pra São Paulo, e em 69, depois do AI5, o Glauber falou: você tem que trabalhar com a Lina.

Ela teve a ideia deste espaço durante a montagem de Nas selvas da cidade, em 69, tinha uma cena que os atores arrancavam as madeiras e aparecia esse chão e ela disse: – esse é o teu sertão. Nós  já queríamos montar naquela época Os sertões. Esse lugar aqui é o último ato dela, o canto do cisne, que remete ao primeiro, a Casa de vidro [onde hoje funciona o instituto Lina Bo Bardi] . E hoje ela faz um sucesso internacional danado, por que ela é a arquiteta da crise, ela está na linha oposta dos construtores de torres, o que ela chama de arqueologia urbana. Ela aproveita os escombros, aqui ela aproveitou os arcos romanos da vila original daqui. Esse projeto é uma obra prima, já ganhou prêmio na Bienal de Praga.”

Foi numa viagem de ácido com o amigo cineasta Celso Lucas, temendo o limite do muro que impedia uma fuga no caso de uma invasão dos militares, que os dois “atravessaram” a parede. Ao relatar para Lina a experiência lisérgica ela refuta: “Eu sou arquiteto, não atravesso paredes, eu quebro paredes”.

Nascia o projeto do atual Teatro Oficina, na sua a terceira versão.

O teatro já tem 20 anos e precisa de consertos.

A Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo criou um edital para a reforma. Segundo Zé um  edital nos conformes “tecnocráticos” não levando em conta a transformação inerente à proposta de um projeto vivo, condizente com as necessidades do grupo Uzyna Uzona do qual Zé Celso é o fundador e diretor artístico, e nem mesmo com o arquiteto Edson Elito, que criou o projeto junto com Lina.

“Fizeram um edital para a reforma, sem acatar o coautor do projeto que é o Edson Elito, inclusive foi quem assinou a planta por que a Lina morreu um ano antes de ficar pronto. Aliás assinado por nós também, porque ela trabalhava junto com a gente.  No edital não existe uma menção à palavra cultura, nem ao Oficina. É só um edital tecnocrata total, um horror, insuportável de ler.”

“Esse espaço é uma transformação constante. Eles querem transformar isso num museu, é uma reforma de museu. Esse edital que foi feito pelo Secretario de Cultura do Governo do Estado, desse governo do Alckmin, que não sei porque ele taí, esse picolé de chuchu, essa seca enorme, a USP tá uma bosta, e esse cara taí, acho que por inércia, por interesse óbvio. O povo está inerte.”

O Condephaat, órgão responsável pela reforma, foi contactado e declarou: “garantimos que a interlocução com o grupo existe e assegura ao grupo que ele participará dos processos de discussão para elaboração e apreciação do projeto, a fim de garantir a adequação à natureza específica das atividades que ali se desenvolvem e o respeito aos ideais que norteiam o Oficina. A discussão sobre a elaboração do projeto terá continuidade, evidentemente, quando definida a empresa vencedora da licitação”.

Além do edital de reforma, outra indignação de Zé Celso é o destombamento do entorno, que ameaça sufocar o teatro com torres de concreto, traindo o projeto de Lina e a vocação do grupo para um teatro em comunicação com a cidade e o universo.

A briga pelo terreno com o grupo Silvio Santos durou décadas, e teve um final feliz com o tombamento inclusive do entorno em 2010 pelo IPHAN. Agora a proposta passa pelo destombamento do entorno, descaracterizando o projeto original de Lina de “abrir-se mais ainda para o exterior”. “Lina queria que o elenco, preparando-se para entrar em cena, tivesse este momento de concentração, contato com a cidade e com o Universo.”

O tombamento aconteceu durante o governo Lula, na gestão do Ministro da Cultura Juca Ferreira.

Foi oferecido a Zé um contrato de permissão a título precário de uso por dois anos do Teatro Oficina, que ele se recusa a assinar. Numa ligação telefônica feita por uma das arquitetas do grupo Uzyna Uzona para a Secretaria do Estado uma funcionária questionou sobre quando eles entenderiam que o teatro não era propriedade do grupo.  É o fantasma da velha questão de uso e propriedade, num espaço criado por eles. O teatro Oficina não é um simples teatro que pode ser repassado para um novo grupo como um imóvel de especulação.

Este oásis de arte e verde no coração da paulicéia, o Teatro Oficina, já renasceu três vezes. Após um incêndio criminoso em 1966, onde os mesmos para-militares que atacaram a TV Bandeirantes levaram o Oficina, construído pelo pré-tropicalista Joaquim Guedes, às cinzas. Já era o prenúncio do AI-5 que iria instaurar o terror da ditadura brasileira com seus desmandos e torturas.

O segundo teatro tinha palco giratório e uma arquibancada, obra de Flávio Império, inspirado pela linguagem brechtiana. Neste palco a história do teatro brasileiro, e da arte em geral, sofreria a grande reviravolta com O rei da vela de Oswald de Andrade e nascia o tropicalismo e sua antropofagia modernista.

“Montamos o Rei da vela com aquela cenografia antiga de teatro de revista, meio cubista, do Hélio Eichbauer. No que estreou essa peça descobrimos o Oswald de Andrade, no que se descobriu Oswald, aquele teatro foi totalmente superado.”

Isso aconteceu em 1967 levando em seguida o grupo para a efervescente Paris de 1968.

“Em 68 o mundo todo recebe essa noção do aqui e agora, a Tropicália, o Terra em transe do Glauber,  o Hélio Oiticica. Estávamos apresentando o Rei da Vela em Paris. Voltando do espetáculo a gente topou com mais de 250 barricadas. Estava instaurado no mundo inteiro maio de 68, o poder jovem que se chamava.  É proibido proibir era o slogan. Depois isso teve influência em todas as revoluções, a revolução da alimentação, das drogas, da sexualidade – todas as coisas que vieram com 68. 68 não é uma época, 68 é quando se descobre o aqui e agora, e tira essa fantasia de uma sociedade justa. A utopia é o aqui e agora ou nunca, o presentismo. Isso mudou minha vida inteira, depois disso todo dia é 68 pra mim. Todas as revoluções de agora são ramificações: o movimento das mulheres, o movimento gay, o movimento ecológico. Todos esses movimentos que a esquerda pegou. A esquerda está maravilhosa, ela acolheu todas as revoluções e deixou toda a porcaria para a direita”.

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"A MPB atingiu seu teto" http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/25/a-mpb-atingiu-seu-teto/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/25/a-mpb-atingiu-seu-teto/#respond Sat, 25 Oct 2014 19:14:04 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=395 Continue lendo →]]> nelson1“A MPB atingiu seu teto. E perdeu a importância, a transcendência e a ambição do anos  60”.

“O mundo ficou mais careta, com certeza”.

“A cena musical de Belém do Pará é a mais interessante do Brasil”.

“Brinco que Jorge Drexler é o maior revelação da MPB hoje”.

“Nem viajando de ácido aqueles hippies imaginavam que um dia cada um ia ter seu próprio jornal e rádio pra falar com o mundo o que quisesse. E praticamente de graça, isso é o sonho de qualquer anarquista. E o sonho para qualquer artista novo dos anos 60”.

E, depois dos musicais sobre Tim Maia e Elis Regina, vem aí uma montagem sobre Simonal.

*

Jornalistacompositorescritorroteiristaprodutor musical, dono de boate. Impossível reduzir a uma só palavra a trajetória de Nelson Motta, autor de sucessos estrondosos como a música de abertura da novela “Dancin’ Days”, das Frenéticas, “Como uma onda”, junto com Lulu Santos, ou ainda “Vale Tudo”, biografia de Tim Maia, que vendeu mais de 200 mil cópias, para ficar apenas em alguns exemplos.

A verdade é que a história musical brasileira das últimas cinco décadas não poderia ser contada sem o protagonismo deste paulistano adotado pelo Rio, hoje vivendo em um aconchegante apartamento em Ipanema, com bela vista para o mar – autor de “Nova York é aqui/ Manhattan de cabo a rabo”, espécie de guia cultural/ comportamental, morou por quase dez anos na cidade, na década de 90, mas diz preferir atualmente andar por Lisboa, “minha segunda casa”.

Nelson Motta está completando 70 anos no próximo dia 29, e uma série de lançamentos estão previstos para comemorar a data. Destaque para “As sete vidas de Nelson Motta” (editora Foz), que revisita alguns dos momentos mais expressivos de sua carreira. Motta tem boas histórias para contar, como o convívio com Samuel Wainer no extinto “Última Hora”, à frente de sua coluna ‘Poder Jovem’, aos 23 anos, dedicada à descoberta e divulgação de novos talentos e ideias, coisa que de uma forma ou de outra ele faria pelo resto da vida.

Outros pontos altos do livro são os encontros com Paulo Francis nos primórdios do programa “Manhattan Connection”, ou ainda o privilégio de acompanhar os bastidores da turnê dos Rolling Stones pela Europa no começo dos anos 80.

O livro mescla textos originais a uma seleção minuciosa de reportagens, crônicas e perfis assinados pelo autor e publicados nos principais jornais do país, entre os quais a Folha, além do material publicado na Última Hora entre 1967 e 1969, trazendo à tona a atmosfera do Rio de Janeiro, da bossa nova e dos festivais de MPB vivida à época.

Outro lançamento que chega às lojas é o CD “Nelson 70”, com letras de Nelson Motta e parceiros em novas versões. Coube a Lenine, Jorge Drexler, Céu, Ed Motta e Daniel Jobim, Gaby Amarantos, Fernanda Takai, Laila Garin, entre outros, o desafio de apresentar uma interpretação original a hits consagrados como “Certas Coisas”, “De repente California” ou “Noturno Carioca”.  Além da inédita “Parece mentira”, na voz de Marisa Monte, acompanhada de João Donato ao piano.

Não bastassem o livro e o CD, o Canal Brasil exibirá uma série em oito episódios, toda em pb, contando a história de Nelson Motta através de parceiros, amigos e canções.

E completando o ciclo de comemorações, a quarta edição do Festival Sonoridades, com curadoria do próprio Nelson Motta, estreia no começo de novembro. A proposta é oferecer um recorte amplo, integrando novos talentos do momento, cenas regionais, músicos e artistas cultuados. Desta vez, subirão ao palco Alice Caymmi, 24 anos, que vem se destacando no circuito independente de MPB, acompanhada de Helio Flandres, da banda Vanguart, e o lendário hitmaker Michael Sullivan.

“A primeira sensação que tenho é de privilégio: chegar inteiro aos 70, em plena atividade, é uma façanha”, diz Nelson Motta. “A coisa que mais detesto é nostalgia. A tudo me entreguei com grande intensidade, de maneira que acabo não tendo saudade de nada”, acrescenta.

Culturalmente, como enxerga o Brasil de hoje?

Em grande ebulição e atividade. Na literatura, na música, na televisão, era uma coisa que sempre foi reservada a uma pequena casta de autores e hoje já não é mais assim. Um cara como João Emanuel Carneiro, escrevendo uma novela como “Avenida Brasil”, é um evento cultural de alto nível.

Tenho lido coisas ótimas, Pornopopeia é um dos melhores livros de qualquer lugar. Tem sofisticação e grossura, mistura erudito e popular em uma atmosfera extremamente dramática e hilariante. E cronistas como o Antonio Prata, meu favorito hoje. Ele não tem uma coisa raivosa, passional, tem uma tolerância.

De música eu vejo que os grandes nomes de velhas gerações continuam em atividade, e bem. Este último disco do Chico para mim é um dos dois ou três melhores de sua carreira. Não é só minha opinião: o nível que chegaram as letras, como ele evoluiu como músico também, até como cantor ele melhorou muito.

Caetano também tem uma atividade impressionante. Muito garoto não tem a coragem como ele de fazer um disco como “Cê”.

E sobre os novos?

Criolo e Emicida são muito interessantes, Gaby Amarantos também.

Acho alegre a descoberta do tecnobrega. Gosto e me divirto com Waldo Squash, Felipe Cordeiro, Lia Sophia. A cena musical de Belém do Pará para mim é a mais interessante do Brasil, fui lá varias vezes, criaram até um novo modelo de negócios. Foram os primeiros a transformar a internet em modelo de divulgação. Os artistas ganham dinheiro fazendo shows nas centenas de casas noturnas espalhadas pela cidade. O tecnobrega virou uma usina.

Belém tem tanta música alegre e dançante como na época da discoteca. A excitação que o tecnobrega provoca é igualzinha.

E MPB?

Quando um jovem me diz que faz MPB eu lhe respondo, tem que estar disposto a fazer melhor que Chico e Caetano.

Mas isso é possível?

Não, nesse formato bateu o teto. Tem que fazer diferente, é a única forma. Tem compositores interessantes, gosto muito de algumas coisas do Max de Castro, do Ed Motta. O Lenine tem uma consistência, está sempre avançando.

Agora, fazer bossa depois de Tom e João é duro. Mas veja que interessante, a bossa com tecno e trip hop funcionou. É como vodka, a bossa é o gênero que mais se beneficiou com a eletrônica. Houve uma renovação. Não se pode dizer se melhor ou pior que os originais. É diferente. Mas não existiria sem eles.

A música de antes era melhor?

A música popular perdeu o status, virou commoditie, as pessoas a consomem como se fosse água encanada. A música perdeu a importância, a transcedência e a ambição do anos 60, quando era trilha de movimentos sociais,por exemplo.

Mas há uma ilusão de que em outras épocas a boa música era majoritária. Conversa mole. Nos anos 70, Chico, Caetano e Jorge Ben eram para universitários de classe média. Os grandes sucessos eram Paulo Sergio, Odair Jose, Nelson Ned, Agnaldo Timóteo. Como mostra o livro do Paulo Cesar Araujo, “Eu não sou cachorro não”, esses caras fizeram mais oposição à ditadura e foram mais perseguidos que os artistas politizados.

Nos anos 80 igual. É ilusão achar que nas rádios imperavam os Titãs ou Paralamas. Havia uma caralhada horrorosa, igual a hoje. É preciso uma massa crítica enorme de merda pra você tirar uns 5 ou 10% de pérola, de músicas que vão se incorporar na vida das pessoas e influenciar na produção futura.

Só que hoje há uma quantidade infinita de barulho e porcaria em volta, então está mais difícil de encontrar as pérolas.  Mas as coisas boas continuam existindo e certamente na mesma proporção, até mesmo em maior quantidade.

Qual seu posicionamento sobre as biografias não-autorizadas?

Refleti bastante sobre isso. Não fiquei nem com o Roberto Carlos, nem com o Procure Saber. Sou a favor da liberdade total das biografias, que cada um arque com suas consequências, e que a Justiça seja rápida e eficiente.

E como enxerga a juventude atualmente?

Com um poder danado. Eles têm armas e recursos que nunca ninguém ousou sonhar. Nem viajando de ácido aqueles hippies imaginavam que um dia cada um ia ter seu próprio jornal e rádio pra falar com o mundo o que quisesse. E praticamente de graça, isso é o sonho de qualquer anarquista. Este era o sonho para qualquer artista novo dos anos 60.

Mas tem o uso que fazem destas armas.

O uso que fazem é complicado. Hoje as pessoas reclamam, que não tem espaço. É lógico: hoje o acesso às oportunidades é mais democrático. É o que acontece na música e na literatura hoje. Então não pode reclamar. Depende da ambição de cada um. Essa igualdade de oportunidades é um dos fatos mais marcantes desse momento cultural.

Quem quer fazer vai lá e faz. Já vi pessoas nas piores condições, que vão lá e fazem.  Um artista conceitual pode ter 20, 30 mil seguidores espalhados pelo mundo.

Uma vez perguntei ao João Gilberto, sobre como seria a promoção ideal de um artista, no seu entendimento. Ele respondeu: ‘ informar corretamente as pessoas interessadas’. Palavras de fogo. Isso é tudo, o resto é conversa. Não vou falar de Lou Reed no programa do Faustão. Basta informar corretamente.

O mundo ficou mais careta?

Com certeza. A repressão política dos anos 60 de certa forma estimulou o avanço comportamental.

Nos Estados Unidos, a partir dos anos 90, a produção cultural passa a se voltar para a classe média, público alvo gigantesco. Então o nível tem que abaixar, para atender aquele gosto, aqueles valores. É preciso mediocrizar para atender a mais gente.

Houve uma grande ascensão do politicamente correto, que chegou com atraso por aqui, claro que com algumas diferenças. Aqui os valores familiares, conservadores, acabaram predominando. Quem quiser vender livro, disco, dar ibope, tem que falar a linguagem que as multidões entendem.

O Brasil é muito conservador, se você fizer plebiscito sobre pena de morte, aborto, legalização das drogas, vai ficar chocado com os resultados. Eu não vou levar susto nenhum porque conheço. A gente tinha uma ilusão que o Brasil inauguraria uma nova forma de civilização, sem o peso da história européia e nem o mercantilismo americano. Uma miscigenação atlântica, um mito enfim. Acho que foi muito ácido que a gente tomou. A realidade é que o Brasil mantém os valores e a tradição das classes dominantes, agora assimilados pela classe média.

Sou um libertário, um liberal radical, e ainda quero ser independente, poder mudar de opinião sem ser acusado disso ou daquilo.

Ácidos, cocaína e maconha são recorrentes em sua prosa.

Isso aparece porque foi minha época, porque vivi intensamente. No final dos 70 e início dos 80, era dono de boate. Foram 4 ou 5 anos na cocaína. E tomava mandrix, que era um ecstasy muito melhorado, um afrodisíaco, na verdade. Tive uma fase de devassidão na noite, vivi o máximo ali.

Foi bom mas a consequências foram os anos seguintes a pagar essa conta, com saúde e cabeça. Hoje  fumo um baseado aqui e ali. Gosto, só me faz bem e minha memória é ótima.

O que você tem escutado?

O Jorge Drexler eu adorei logo de cara, seu estilo de fazer música. Ficamos amigos. Brinco que ele é a maior revelação da MPB dos últimos anos. Ele tem uma influência tão forte da MPB, e assimilou isso muito bem junto com o talento original dele. O que faz no violão é padrão Djavan para mim, fora que é um letrista extraordinário.

É o artista que mais ouço no meu ipod. Gosto também de música argentina. Bajofondo é sensacional. Escuto também o Tanghetto, Otros Aires. E os novos fadistas portuguesas, absolutamente geniais, como a Carminho, Cuca Roseta, Antonio Zambujo. O fado é foda.

70 anos. O que dizer a essa altura da vida?

A primeira sensação que tenho com isso é de privilégio: chegar inteiro, em plena atividade, aos 70 é uma façanha. Me senti obrigado a olhar para trás, por causa do livro. É uma coisa que não costumo fazer normalmente… a coisa que mais detesto é nostalgia. Porque vivi muitas fases diferentes na minha vida,fazendo  jornalismo, literatura ou direção de programas de TV. A todas me entreguei com grande intensidade, então você acaba não tendo saudade de nada, não ficou devendo. O que eu mais gosto é de escrever, seja jornalismo, ficção ou roteiro.

Quais os picos de sua carreira?

Como são atividades diversas e muito diferentes, os picos pra mim se confundem muito com o primeiro trabalho que deu certo ali, que é o desafio. Digamos que eu era um reporterzinho de cultura no JB de 22 anos, e Samuel Wainer me chamou para fazer uma coluna de meia página, isso é um pico. Ou “Saveiros” com Dori, pela qual venci o Festival de 66. Mas foi um pico meio incompleto, ali também inauguramos a vaia (risos). “Saveiros” foi uma das minhas primeiras letras, ali é só corretinho. Tem uma imitação de Dorival e Jorge Amado, nem tinha ido à Bahia. Em 67  lançamos “O Cantador”, ali sim uma música muito boa. Considero minha primeira letra profissional, aos 23 anos. Mas aquele era o festival dos festivais, e não ganhamos.

Em suma, faltava um puta hit popular, que foi “Perigosa Bonita e Gostosa” com Frenéticas e “Dancin Days” logo em seguida. Essas músicas me trouxeram mais emoção que outros sucessos com Lulu e Guilherme Arantes, que viriam depois. É que o primeiro hit você nunca esquece.

Na literatura, isso veio com “Noites Tropicais” que se tornou um mega hit. Além disso recebeu ótimas críticas. Tim Maia vendeu o dobro, mas esse eu vinha já há dez anos maturando, era praticamente uma carta marcada, não precisava acertar era só não errar, porque esse personagem é o sonho de qualquer ficcionista.

E no teatro?

No teatro houve uma vingança, um pico com sangue na boca. Em 76 escrevi um musical com o Guto Graça Mello, para a Marilia Pera, com quem era casado, fazer. Tinha textos do Gabriel García Marquez, do Carlos Castañeda, do Borges, uma coisa espiritual e mística. Foi um fracasso devastador, praticamente quebramos, eu e a Marilia.

Só em 2011, com o musical do Tim Maia, lavei a alma. Descobri que de todas as coisas que fiz na vida, não há gratificação artística mais forte para mim, do que o teatro. Não há dinheiro que pague, quando no escuro, você vê pessoas chorando de soluçar com o Tim Maia doente, ou chorando de rir sobre piadas que você escreveu.

Escrevi também Elis, uma produção de alto luxo, mais ambiciosa, que também me deu muita alegria, e continua dando. E agora já estamos ensaiando um musical sobre o Simonal. Esse vai ser o melhor de todos, com fortíssimo componente dramático. Simonal é um personagem inacreditável por causa dos altos e baixos de sua carreira. Por conta de uma polêmica espetacular, ele teve sua  qualidade artística negligenciada. Ora, o diretor musical na época era o Cesar Camargo Mariano, Simonal era pilantragem só no nome, pois sua música tinha muita ambição.

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A crise da esquerda e do PT, segundo Roberto Amaral http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/22/a-crise-da-esquerda-e-do-pt-segundo-roberto-amaral/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/22/a-crise-da-esquerda-e-do-pt-segundo-roberto-amaral/#respond Wed, 22 Oct 2014 18:45:43 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=388 Continue lendo →]]> No headlineCientista político, ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004 e presidente do PSB até o final do primeiro turno, Roberto Amaral tem criticado a aliança do partido à candidatura de Aécio Neves, e vem participando de vários atos pró-Dilma.

Na opinião de Amaral, a aliança “renega compromissos programáticos e estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no lixo o legado de seus fundadores e menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda, socialista e democrática”.

Nesta entrevista, por telefone, Amaral vai mais longe e oferece uma visão crítica não só sobre os tucanos mas também sobre o que considera uma crise da esquerda e mais especificamente, do PT. De quebra, advoga pela reforma política e parece cético com o novo governo, vença quem vencer.

“O PT não soube separar o papel do governo e o papel do partido, eles se confundiram com a máquina. Tinha que ser ao contrário, era preciso ficar de fora da máquina para fazer vigilância”.

“Tudo parou com a morte do Arraes. Com Eduardo Campos à frente, principalmente enquanto candidato, a tendência à direita se aprofunda”.

“É inviável administrar um país que tem no Congresso 28 partidos, entre os quais apenas 3 ou 4 com alguma diferenciação ideológica”.

“A verdade é que a democracia representativa não sobrevive à ausência de partidos, e nós hoje não temos partidos. O eleitor não se sente representado pelo Congresso. O eleitor virou um joguete”.

*

Que dizer sobre a crise da água em São Paulo?

Considero uma irresponsabilidade tremenda, em pleno século 21, São Paulo ser surpreendida por uma seca. Nem no nordeste isso tem acontecido. O que sei é que o grande negócio da Sabesp não é mais água. É a especulação financeira, com cotações sendo vendidas em Nova York. Só no ano passado, se não me engano, tiveram um lucro de R$ 1,5 bilhão, com especulação financeira.

Em que medida a responsabilidade é do governo?

O problema não é só climático. São vinte anos de governos tucanos.

Como Alckmin foi reeleito, nessas circunstâncias?

São Paulo é um caso à parte. Kassab derrotou Alckmin para a Prefeitura, e agora concorrendo para o Senado foi dos últimos, enquanto Alckmin foi reeleito. Serra, que perdeu para Haddad, agora se elege sobre o Suplicy. É algo mais que as pesquisas de opinião não detectam.

Mas tenho meu palpite. Atribuo muito à crise do PT. Há sobretudo uma rejeição ao PT que é muito forte em SP. Não quero tirar mérito do Alckmin mas seu governo é medíocre, sem obra, um governo de escândalos, e ele passa por tudo isso como se fosse uma panela teflon.

Atribuo a sobrevivência da mediocridade em São Paulo à incompetência do próprio PT. Está claro que Padilha não era o candidato ideal.

Veja que Dilma perdeu em todos os municípios da Grande São Paulo no primeiro turno. Na Grande São Paulo perdeu em todos os municípios governados pelo PT, menos em Horotlândia.

Mas o fundamental é que a esquerda e o PT, independentemente do resultado deste segundo turno, precisam fazer uma revisão. A forma atual de fazer política não atende mais a realidade brasileira.

No entanto o vice de Alckmin é de seu partido. Não há aí uma contradição?

Há uma contradição. Tudo parou com a morte do Arraes. Arraes estava para o PSB assim como Lula, digamos, para o PT. Ele era a garantia de que o partido não faria concessões.

Mas a partir dali o PSB claramente abandonou o campo de esquerda e adotou uma linha de oportunismo eleitoral, primeiro ao centro, depois do centro para a direita.

O PSB tem francas ligações políticas e ideológicas com o PSDB, em São Paulo.

Mas não tenho o direito de me surpreender. Em outros Estados, como Santa Catarina, vejo o partido se entregar para os Bornhausen, por exemplo. São concessões sérias, tudo em nome da objetividade e do pragmatismo. Tudo em nome da candidatura do Eduardo Campos.

Eduardo tornou o partido menos esquerdista?

Com a candidatura Eduardo Campos à frente, principalmente enquanto candidato, a tendência à direita se aprofunda. O pretexto deixa de ser ideológico e passa a ser o antipetismo. Tudo passou a ser permitido no próprio partido.

Como resistiu na presidência do partido vendo tudo isso acontecer?

Tive a ilusão de que não deteria o processo mas ao menos o atrasaria. Em segundo lugar, me mantive à frente em solidariedade a muitos companheiros, que se sentem desamparados. E por um sentimento histórico.

Eu não participava do comando da campanha de Eduardo, mas quando veio a tragédia não tive alternativa, segurei aquela circunstância, e consegui fazê-lo até a escolha da Marina.

Aquele era o momento de eu sair. Mas houve um atrito entre algumas alas do partido e Marina, e entendi que era irresponsável abandonar o barco. Esfacelar a campanha dela era uma crise que eu não podia me permitir.

O que aconteceu com a Marina no primeiro turno?

A subida da Marina nas pesquisas foi uma subida emocional, a reboque da tragédia e a larga exposição na mídia. Foi um erro estúpido dos marketeiros da Dilma, terem eleito a Marina como adversária, se esquecendo do Aécio. Essa brincadeira fez com que Aécio subisse.

Qual o grau de consistência do programa de governo de Marina, em sua opinião?

A tragédia do programa é que ele não foi improvisado. Foram erros pensados. O programa foi formulado em conjunto pela turma da Marina principalmente, e setores do PSB recém chegados, como Maurício Rands. Não conheciam a literatura do partido. O programa era mais do Eduardo e dela, que do PSB. Todas as questões à direita que reclamávamos, como por exemplo a independência do Banco Central ou da candidatura avulsa, o Maurício Rands nos dizia que era pedido do Eduardo.

O lançamento do programa foi um tiro no pé. Ao invés de criar uma campanha propositiva, Marina passou a se defender. A questão LGBT por exemplo, não foi inventada. Até o último debate, Marina era a única candidata que tinha um programa, se defendendo. Mas quando você não tem estratégia, é obrigado a adotar a estratégia do adversário.

Existe uma narrativa de que nestas eleições Marina quebrou o PSB e a Rede.

Ela não teve nenhuma responsabilidade nisso, inclusive ela adiou a crise do partido. Marina foi contra a aliança com Caiado, lutou até o último minuto contra o apoio a Alckmin. Não se pode acusá-la.

Você tem falado bastante sobre uma crise do PT.

Ela está inserida numa crise geral da esquerda, e isso é mundial. A Europa está caminhando para a direita. Os partidos europeus fracassaram. Foram atingidos pela queda do muro de Berlim, que funcionou como metáfora desencadeando uma crise no chamado socialismo real. Não souberam apontar para frente. Estamos num hiato, e esse hiato chegou ao Brasil.

Aqui encontramos o PT como um partido hegemônico fazendo uma política hegemonista sobre a esquerda e caminhando para o centro.

É uma tragédia típica do presidencialismo de coalizão, da cooptação. Lula é eleito tentando de início governar com a base de esquerda. Mas logo adota a política tradicional de ampliar a base. Ora, você de esquerda só pode ampliá-la pela direita, e essa ampliação tem seu preço. Você acaba abrindo o governo para forças conservadoras, compreendendo PMDB, Maluf, Sarney, o que há de pior. Era o preço do que se chama governabilidade.

Sou do pensamento de que ao lado desta base tinha que ter um núcleo forte, composto pelo PT, PSB, PDT, PC do B. Mas no final das contas esse núcleo era só PT e nem todo o PT.

O segundo erro, em minha opinião, é que Lula absorve no governo as lideranças do partido. Estes passam a ser burocratas do governo.

Quanto ao movimento sindical, esse é cooptado. Os líderes abandonam o chão de fábrica e passam a frequentar os gabinetes de Brasília. Partido e governo se entregaram de mãos atadas à coalizão.

Houve ainda uma incompetência enorme em não se construir uma própria alternativa aos meios de comunicação de massa. As emissoras públicas estatais são uma porcaria, não formam opinião. Ou seja, em 12 anos de governo não se construiu uma base de esquerda, enquanto se distribuiu à larga canais para a Globosat e os evangélicos. Não houve uma política de comunicação, apenas um arremedo com Franklin Martins.

O que é trágico é que a América do Sul é o único continente que vem resistindo à onda conservadora mundial.

Por isso, seja qual for resultado destas eleições, é preciso repensar, o que é ser esquerda, o que é ser socialista no Brasil. Quais os limites de um governo de centro esquerda, o papel dos sindicatos e movimentos sociais.

O PT não soube separar o papel do governo e o papel do partido, eles se confundiram com a máquina. Tinha que ser ao contrário, era preciso ficar de fora da máquina para fazer vigilância.

Lenin dizia, o partido precisa ficar à esquerda do governo e à direita das massas.

Ainda assim você está apoiando Dilma, ao contrário de seu partido.

Não estou fazendo uma avaliação de governo, minha avaliação é ideológica. Com todos seus defeitos este governo conseguiu implantar uma política externa independente. Produzimos e distribuímos riqueza. Criamos mais vagas nas universidades que todos governos anteriores.

A crítica que faço é por dentro da esquerda. O PSDB para mim representa a privataria, o tarifaço.

Não seria o PSDB um partido de centro-esquerda, pelo menos em sua origem?

Nem em sua origem. O projeto do PSDB era de ser um partido social democrata, mas você só consegue isso se tem inserção trabalhista. O PT realmente é uma social democracia pois mais do que outros, incorporou a massa proletária. O PSDB terminou se transformando em uma UDN renovada, ligado principalmente à classe média urbana, com ligações profundas com o capital internacional.

Não seria simplista esta visão de que o PT é o partido dos pobres e o PSDB, dos ricos?  

Não acho, a questão realmente é essa. O perigoso é negar a luta de classes. É pensar que o motorista e o patrão têm os mesmos interesses na sociedade.

E o que dizer sobre este Congresso que foi eleito?

Ninguém governará o Brasil se não houver um acordo para a reforma política. É inviável administrar um país que tem no Congresso 28 partidos, entre os quais apenas 3 ou 4 com alguma diferenciação ideológica. E nenhum partido é realmente orgânico.

Ao mesmo tempo você tem as chamadas bancadas. O agronegócio por exemplo, tem 200 deputados distribuídos por todos os partidos, assim como os evangélicos, os da bala, os disso ou daquilo.

Então, é preciso negociar com os partidos e com as bancadas.

A verdade é que a democracia representativa não sobrevive à ausência de partidos, e nós hoje não temos partidos.

O eleitor não se sente representado pelo Congresso. A democracia representativa faliu no Brasil. Hoje a eleição é decidida pelo poder econômico e dos meios de comunicação de massa. O eleitor é um joguete.

Você é otimista?

Não sou otimista. O próximo governo vai ter grandes dificuldades, não econômicas – a economia vai bem – mas políticas. Existe uma grave crise política em gestação. Vou lutar por um acordo, espero que baixe a reforma política. Mas quem vai decidir isso em termos institucionais é o PT, o PSDB e o PMDB.

E a ideia apregoada por Eduardo Giannetti, de reunir os melhores quadros de PT e PSDB em um governo de união?

Isso é idiotice, não existe ‘melhores quadros’. Melhores em que? Conheço reacionários que podem ser competentíssimos, e ainda por cima honestos.

 

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"Verdadeiro lixo" http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/14/verdadeiro-lixo/ http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/10/14/verdadeiro-lixo/#respond Tue, 14 Oct 2014 18:49:42 +0000 http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/?p=382 Continue lendo →]]> antonio f pinto“Para os bandidos do crime organizado o momento atual é de céu de brigadeiro, pois este governo está segurando a polícia, que perdeu sua autonomia. Hoje o PCC, que lucra o dobro do que lucrava, não é molestado”.

“Minha visão sobre o governador Alckmin é de um homem que só decide por decurso de prazo. Seu governo fez da secretaria de segurança pública um sistema de capitanias hereditárias”.

Ao deparar com seu sucessor, Fernando Grella, em evento de troca de comando na Rota, no final de setembro, Antônio Ferreira Pinto, ex-Secretário de Segurança Pública (2009-2012), baixou o olhar, pigarreou e pronunciou “lixo”, sem estender a mão (veja o vídeo em https://www.youtube.com/watch?v=u0LCNm2KlxM).

Recentemente, o nome do ex-secretário apareceu em investigação envolvendo suposta relação entre Frank Aguiar, vice-prefeito de São Bernardo, e traficantes. Uma rede de proteção, da qual faria parte Ferreira Pinto, teria tentado livrar Aguiar da investigação.

“Isso foi montado por um delegado do Deic, o Alberto Matheus. Ele foi afastado na minha gestão por suspeita de envolvimento com o PCC, voltou agora e está se vingando. E o Fernando Grella está a par de tudo isso”, diz Ferreira Pinto.

Ele concorreu a deputado federal pelo PMDB, mas não conseguiu se eleger. Em compensação, dois de seus principais interlocutores, o coronel Telhada e o Major Olimpio, elegeram-se deputado estadual e federal, respectivamente. Em comum com eles, diz Ferreira Pinto, está a defesa dos interesses da Polícia Militar.

Sua atuação à frente da pasta nunca foi um consenso. O afastamento de diversos oficiais da Polícia Civil dos cargos de chefia, por suspeita de corrupção, a truculência e letalidade da Polícia Militar e a questionada extensão de um sistema de escutas nas investigações do crime organizado fazem parte do repertório.

Ex-tenente e capitão da Polícia Militar,promotor de Justiça, Ferreira Pinto transformou-se em feroz crítico não só de seu sucessor, a quem acusa de descontinuar políticas acertadas de sua gestão, mas também do governador Alckmin.

De acordo com ele, o tráfico de drogas cresceu “em progressão geométrica”, nos últimos anos.

Ferreira Pinto também critica o tratamento dispensado pelo governo à Polícia Militar: “A Rota é uma tropa especializada que só atua em momentos agudos. Não atende briga de marido e mulher, não atira para cima – só aparece quando o confronto é iminente. E a Rota foi tirada das ruas”.

O número de roubos ao patrimônio na capital e no Estado, que registraram alta pelo décimo quinto mês consecutivo, também é alvo das críticas do ex-secretário, que concluiu a entrevista dizendo: “verdadeiro lixo”.

*

Por que “lixo”?

Fui na solenidade da Rota e pela primeira vez, tive contato físico com o atual secretário. Tenho uma indignação muito grande pela forma como a secretaria está sendo conduzida, pelo desmando, pela falta de uma política de Estado, pelos retrocessos após minha saída.

O nível de corrupção nas polícias piorou?

Existe uma falta de combate mais efetivo da corrupção. Eu trouxe para meu gabinete a corregedoria da Polícia Civil, mas hoje isso é letra morta. Hoje a corregedoria não tem vinculação com o gabinete.

Enfim, fica difícil evidenciar se a corrupção piorou, mas a sensação de insegurança entre a população, sem dúvida aumentou.

No entanto o índice de homicídios caiu e se manteve baixo.

Isso é balela. O índice de homicídios vem caindo graças a um serviço implantado pelo DHPP, que descentralizou esta gestão, trazendo policiais vocacionados de todas as áreas. Um serviço muito bem feito pela Polícia Civil que trouxe o decréscimo nos homicídios desde 2006. Quando Alckmin voltou a assumir em 2011, o índice já era o mesmo de hoje.

E os roubos?

Dizer que os crimes de roubo aumentaram por conta da delegacia eletrônica é outra balela, que vem sendo propagada pelo atual secretário. Aumentou porque não existe combate efetivo aos crimes patrimoniais. O governo lançou com toda pompa no ano passado o programa “São Paulo contra o crime” mas a verdade é que o crime venceu.

Na hora em que você baixa uma resolução dizendo que a PM não pode atender ocorrência em que houve tiroteio, você está prejulgando toda uma instituição centenária, acusando-a de tendência homicida.

Quando o governador tira a Rota da rua, fica demonstrado que ele não tem interesse nenhum em combater com energia o crime.

A Rota foi tirada da rua?

Por vários meses a Rota só faz serviços internos e esporadicamente sai à rua. Existe uma preocupação por parte do governo de não passar a imagem de uma polícia repressora. Só que não podemos abrir mão da autoridade do Estado, isso não pode ser esgarçado. Por isso que põe-se fogo no dentista… nisso tudo o pano de fundo é o tráfico de drogas, que cresceu em progressão geométrica. O governo se vangloria de ter apreendido 60 toneladas de cocaína ano passado, mas nunca apresentou um traficante de médio porte.

O crime organizado cresceu?

O crime organizado aumentou.  A Rota é uma tropa especializada que só atua em momentos agudos. Não atende briga de marido e mulher, não atira para cima – só aparece quando o confronto é iminente. E a Rota saiu das ruas.

Quando você se desligou da pasta, muitos policiais estavam sendo executados.

Havia um combate efetivo ao tráfico de drogas e houve essa reação covarde por parte do crime organizado. E assim fui desligado. Uma decisão tomada com base no oportunismo.

No entanto a letalidade da polícia abaixou desde sua saída da secretaria.

O governador não entende o que é letalidade, o que é até compreensível, pois ele é médico anestesista. Letalidade é diferente de execução, isso sim algo execrável. Fizemos levantamento mostrando que em 55% dos confrontos ou o preso saía vivo ou fugia, em minha gestão.

Para os bandidos do crime organizado o momento atual é de céu de brigadeiro pois este governo está segurando a polícia, que perdeu sua autonomia. O crime organizado das prisões recebe a mensagem: ‘não me importune que não importuno’. Hoje o PCC não é molestado. Hoje o crime organizado aufere um lucro de R$ 8 milhões ao mês. Temos gravações mostrando isso. Antigamente, o lucro era de R$ 4 milhões.

Qual sua visão sobre o governador Alckmin?

Minha visão dele é de um homem que só decide por decurso de prazo. Alckmin não tem uma relação mais incisiva com a secretaria de segurança, que se ressente dessa autonomia. As manifestações de junho de 2013 são um exemplo claro. Ora a polícia era omissa, ora se excedia. O governador não sabe o que quer, está muito mais preocupado com as jogadas de marketing.

Como era sua relação pessoal com o governador?

Nunca fui da escolha pessoal dele. Só me nomeou secretário porque não teve outra alternativa. Nunca fui do agrado dele, nossa relação era absolutamente formal.

Qual o grau de violência de nossa polícia, em sua opinião?

Continua grande. Mas não existe polícia no mundo que não tenha um grau de violência. Não mataram um brasileiro em Londres? E o que dizer da polícia americana? O governo tem que ter a humildade de saber que desafio é grande e é preciso uma resposta adequada.

Violência tem que ser combatida com violência?

A violência está na sociedade, e para combatê-la, a autoridade do Estado é necessária. Mas o Alckmin quer passar uma imagem de bonzinho, se desfazer da imagem de uma polícia repressora. Ora, tem que se combater. Mas não faço uma apologia da violência. O confronto é uma opção do bandido.

Como está o ânimo dos policiais?

Os policiais estão indignados. Porque na hora que o governo baixa uma norma dizendo que o policial militar não pode socorrer, criando uma atmosfera de desconfiança, na hora que o governo coloca uma focinheira na PM, na hora em que o governo dá nitidamente preferência por uma organização policial em detrimento da outra, o ânimo cai.

Preferência?

Sim, a preferência pela Polícia Civil é nítida e sabemos que existe uma rivalidade entre as corporações. Existe uma deferência pela Polícia Civil. Ao menos o governo deveria pagá-los bem, e não na base dos adicionais e gratificações, o que afinal é um reconhecimento de que não está pagando direito.

Que tipo de retrocessos houve, desde sua saída?

Eles abriram mão do novo plano de gestão da polícia civil que havíamos elaborado. Voltou-se a um modelo de 40 anos atrás, antigo, arcaico, em que a polícia deixa de investigar os crimes e simplesmente os registra, sem dar prosseguimento. Voltou-se ao mero balcão de atendimento.

A polícia só elucida 2% dos crimes, segundo levantamento da FGV. Durante três meses fizemos um estudo sobre como melhorar o atendimento nos 93 distritos da capital. Levava-se de 10 a 12 horas para se fazer o registro de uma ocorrência, por exemplo. Em caso de entorpecente, para se fazer um flagrante, era preciso enviar a substância à Polícia Científica, no Butantã, para que se realizasse um auto de constatação. Imagine se você estivesse em Ermelino Matarazzo… nós instituímos um kit para fazer essa constatação.

Agilizamos os flagrantes, instituímos um atendimento diferenciado e mudamos os horários de trabalho, privilegiando os momentos de pico. Isso tudo foi abandonado quando saí, os kits foram abolidos.

A política de Estado virou uma política oportunista, casuística, feita para atender interesses partidários de parlamentares que mandam e têm ingerência muito grande na secretaria. Este governo fez da secretaria de segurança novamente um sistema de capitanias hereditárias. Há uma absoluta ausência de política de segurança pública em São Paulo. A secretaria de segurança se transformou em curral eleitoral.

Poderia nomear quem são esses parlamentares?

Posso dar exemplos. Piracicaba tem nove delegacias e todas elas fechavam à noite. Pretendíamos implantar o turno noturno em todo interior mas só conseguimos isso em Bauru, Presidente Prudente e Piracicaba. Esta política foi descontinuada. Retomou-se a política de se criar novas delegacias.

E qual o problema em se criar novas delegacias?

O governador criou por exemplo a delegacia de defesa do direito do deficiente. No décimo andar da secretaria de segurança, com acessibilidade apenas pela garagem, funcionando de segunda a sexta das 9 hs às 18 hs. Para que? Eu acho que o portador de deficiência tinha que ser bem atendido nos 93 distritos.

Essa foi uma medida eleitoreira que veio na esteira de uma decisão do governo Montoro, que com muito sucesso inaugurou a primeira delegacia da mulher no país inteiro. Entendo que no caso da mulher exista uma necessidade de delegacia própria, pois estamos lidando com peculiaridades que envolvem o maltrato no qual a vítima pode se sentir inibida em levar seu drama familiar para pessoas do sexo oposto. É a única delegacia especializada que se justifica.

Outra delegacia sem sentido que este governo criou, é a de crimes em eventos esportivos. Trata-se de pirotecnia de um governo que não enfrenta os problemas com seriedade.

E o Detecta?

Não adianta só comprar equipamento de última geração se não sabe operar. O governo gasta fortunas de TI sem retorno.

O Detecta é uma farsa. É um software para detectar explosivos, adquirido pela polícia de Nova York para ações antiterroristas. Custou R$ 9 mi aos cofres públicos, R$ 4 milhões só para implantar. Só que é um aplicativo incompatível com a realidade de São Paulo e ainda nem conseguiram traduzir o inglês. É mais um engodo.

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