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Roger, do Ultraje: "a gente não saiu da ditadura"

Por Morris Kachani
10/04/14 15:40
'selfie' do Roger

‘selfie’ do Roger

Com mais de meio milhão de seguidores no Twitter e protagonizando o programa “The Noite”,  no SBT, ao lado de Danilo Gentili, Roger Moreira, 57, está revivendo o sucesso.

Conhecido pelo deboche e pela verve iconoclasta, ganhou fama nos anos 80 à frente da banda de rock Ultraje a Rigor, emplacando hits como “Inútil”, “Mim quer tocar” ou “Nós vamos invadir sua praia”.

Depois Roger andou meio esquecido, com aparições pontuais nos holofotes como por exemplo em 99, por conta da edição da ‘G Magazine’ que o trazia nu.

O programa “The Noite” estreou há um mês e vem ganhando uma boa audiência. Atingiu 5,5 pontos no ibope, quando a média no horário anterior a sua estreia era de 4. Já venceu Jô Soares por três vezes.

Para muitos, a parceria de Roger com Gentili, selada em 2010, quando este apresentava um ‘talk show’ na Band, antes de levá-lo ao SBT, simbolizava a decadência do Ultraje. Mas Roger nunca considerou que a banda fosse mero apoio ao programa, como acontece com os músicos de Jô.

São várias suas intervenções durante as entrevistas. Há um mês a apresentadora Rachel Sheherazade cantou em duo com ele “Nós vamos invadir sua praia”, em um dos pontos altos do “The Noite”.

Fui entrevistá-lo no camarim do estúdio do programa, no SBT. A ideia era desfiar seu pensamento político, revisitando as letras de suas canções, que tanto sucesso fizeram em outro tempo. Eis a conversa:

*

Você ainda acha que “a gente somos inútil”?

Eu acho. Quando fiz essa música estava voltando dos Estados Unidos, onde fui morar em 79. Tomei um baque grande de ver o que era a democracia de verdade. A gente ainda estava no finzinho da ditadura, a maioria não fazia ideia e nem hoje faz do que seja realmente uma democracia. Tudo aqui é uma merda. Quando vamos mudar o padrão de uma tomada, ao invés de adotar o padrão internacional, inventamos um padrão esdrúxulo.

E o que é uma democracia?

Um governo orientado para satisfazer o povo, por exemplo. Não como aqui onde predomina o favor e o paternalismo. Lá, quando a população tem necessidade, ela exige que seja atendida. É o lance do capitalismo funcionando direito, todos têm chance. Cheguei como estrangeiro, só pegava empregos que ninguém queria como garçom, lavador de prato, diarista. Ganhava bem, levava uma vida boa. É o que acontece com qualquer brasileiro que vai para lá, ele aprende rapidamente porque é um passo pra cima. Lá ninguém joga lixo no chão. O problema é que quando o brasileiro volta pra cá, ele esquece disso.

Estamos numa democracia?

Estamos em uma democracia fingida como na Venezuela. Não é só porque tem votação que tem democracia. Não é porque a maioria quer que isso é democracia. A democracia prevê um embate das forças e alternância de poder. E aqui há diversos subterfúgios, inclusive de dar dinheiro pro povo, espécie de coronelismo que sempre existiu.

Então nos Estados Unidos a vida é melhor?

Morei lá com minha irmã, que tinha bronquite. Quantas vezes não fomos atendidos gratuitamente no hospital. Aqui não, se você vai ao hospital público vê todo mundo morrendo, deitado no chão. Eu não, claro, graças a Deus, porque tive estudos. Não por isso sou menos brasileiro, a esquerda está sempre tentando jogar uns contra os outros.

E por que você voltou, então?

Saí de lá sinceramente porque não queria essa vida pra sempre, não usava minha cabeça pro trabalho, era só o braçal. Também senti falta de minha cultura, mas na volta senti esse baque e comecei a notar que o Brasil não funciona por causa do brasileiro. Há um vício de colocar a culpa em alguém, de esperar que o governo resolva, de não assumir. Na letra de “Inútil” usamos o português errado, porque aqui não tem educação direito.

“A gente não sabemos escolher presidente”, ainda?

Ainda não. Praticamente todos os partidos estão do mesmo lado pra começo de conversa. Os políticos prometem de tudo e o povo brasileiro meio que aceita. A gente tem essa mania histórica de corrupção e preguiça, uma série de más qualidades que fingimos que não vemos. Em português claro, o brasileiro merece tomar uns pitos de correção e não tem quem vá fazer isso porque político só rouba e promete, e trata o povo como se fosse coitado. A segunda frase desta música é “a gente não sabemos tomar conta da gente”. A gente não sabe se administrar.

O que precisa ser feito?

A gente tem que tomar as rédeas do sistema. Mas está tão corrompido que a gente nem sabe qual é esse caminho.

O país melhorou?

Melhorou. A gente saiu de uma ditadura e passou a fazer eleição direta. Mas agora estamos regredindo rapidamente sem perceber, pro ponto que a gente estava.

Como assim?

Entrei na escola em 64, naquele tempo a aula de história era muito orientada, só os melhores momentos eram apresentados e ainda assim de forma deturpada. Hoje é assim só que ao contrário. Continua a deturpação, só que por outro lado.

Dê um exemplo.

O caso da Raquel Sheherazade, que foi afastada, em férias compulsórias durante um tempo por conta de uma ação movida pela deputada Jandira Feghali (PC do B). Então é censura, só que por outro lado. Parece que desde os anos 30 mudamos de uma ditadura para outra, sempre disfarçando de democracia.

Mas a Sheherazade pisou na bola?

Ela não falou nada de mais. Ela disse que era compreensível quando amarraram um ladrão no poste. Compreensível significa que eu entendo a revolta da população que não agüenta mais ser roubada. Não quer dizer que eu ache que todo ladrão deva ser amarrado, mas interpretaram dessa maneira.

Você acompanhou os protestos de junho?

Não tenho mais idade para isso. Mas apoiei, achei legal. Pena que esvaziaram de maneira brilhante colocando black blocs na rua e com os políticos convocando reuniões, como sempre fazem. Vamos mudar de assunto, nada aconteceu, agora tem Copa e carnaval, tem sido assim de ditadura em ditadura.

O governo Lula foi bom para o Brasil?

Sinceramente acho que foi ruim, o que ele fez foi manter a inflação estabilizada com um programa que vinha do governo anterior. O que ele mais fez foi demagogia o tempo inteiro. Dizem que elevou a classe c mas pra falar a verdade não sei se isso não aconteceria naturalmente com o dinheiro estabilizado.

A ascensão da classe c não é um avanço?

Sem dúvida. Mas o pessoal acha que isso aconteceu porque o governo foi bonzinho com a gente. E pensam assim, “agora não sou mais miserável, porque posso comprar TV”. Errado, o contrário da miséria é o conhecimento, não é só comer e tal. Lula botou na cabeça do brasileiro essa luta de classes que não era pra existir. Fez o povo acreditar que quem tem dinheiro é contra os pobres.

E Dilma?

Se o país estivesse progredindo ok, mas não está. Estamos parados. E o Bolsa Família, que era para ser um analgésico, vai continuar para sempre, para garantir os 40% de votos que ela necessita para ser reeleita.

Como você se define politicamente?

Voto normalmente pra coisa ficar equilibrada. Esse é o segredo da democracia, se o poder está pendendo muito pra direita, é bom calibrar um pouco pra esquerda, e vice-versa. De todo jeito, sou mais pelo indivíduo do que pelos grupos – na coletividade, sempre tem a desculpa de que “a culpa não é minha, é do grupo”.

O que você defende?

Como força política acredito no liberalismo capitalista. Vivi isso, sei que funciona e não é só nos Estados Unidos. Na China, que é comunista, investiram pesado e estão na liderança do mundo. Gosto da ideia de que quanto menos interferência do Estado, melhor. Ele tem que regular, fiscalizar, mas não gosto da burocracia.

Que reflexão faz sobre os 50 anos do golpe militar?

Após tantos anos de ditadura criou-se a ideia de que a esquerda é tudo de bom, de que é boazinha e tal. Não vejo assim. Qualquer esquerda, não só a brasileira, é uma merda falida, com uns exemplos como Fidel Castro que socializou a miséria. Todo mundo quer é igualdade na riqueza. Isso não é fútil, as pessoas querem conforto e serviços. Agora aqui todo mundo só quer o direito, não quer os deveres.

E o que dizer sobre a direita?

A direita aqui é inexistente. A esquerda gosta de associar a direita a torturadores militares ou a Hitler, como se eles fossem o único tipo. Mas veja não sou de direita, tenho valores da direita e da esquerda, por incrível que pareça.

Exemplos.

Por exemplo cultivo um valor de direita que é a honestidade. A esquerda acha que tudo bem você ser desonesto, pra fazer supostamente um bem maior. A meritocracia por exemplo também é uma coisa mais à direita e acho que está certo. Agora, quando você não tem as mesmas chances, aí estou mais pra esquerda. Outra posição de esquerda: hoje em dia acho que deveria liberar a maconha porque não vejo muita diferença entre ela e o álcool. Não uso mais, nenhum dos dois.

Como viveu o período da ditadura?

Olha eu cresci durante a ditadura, mas não via nada disso. Tive uma infância super tranquila. Já na adolescência comecei a saber sobre bombas e atentados, mas não tinha conhecimento político, pois não se falava a respeito na escola e meus pais não eram tão ligados. Eu ouvia falar em terrorismo, comunismo e subversivos, pra mim era tudo mais ou menos a mesma coisa. Mas quando comecei a prestar atenção, percebi que havia receita de bolo nos jornais ou um filme que demorava muito para chegar.

Agora, naquele tempo a gente falava a mesma coisa que hoje em dia: não há interesse em dar educação ao povo porque quanto mais burro, mais fácil de controlar. Então vou dizer que era muito mais seguro nas ruas naquele tempo. Meus pais não sofreram perseguição e nem seus amigos. A gente só sabia que estavam censurando. Só fui conhecer mesmo a realidade no colegial, e depois na faculdade. Não estou elogiando a ditadura. Já era ruim só que hoje é a mesma coisa.

A mesma coisa?

Hoje em dia me parece que piorou até, porque tem censura também, e antes não tinha o brasileiro contra o brasileiro como tem hoje em tudo que é lugar. O deputado Jean Willys por exemplo, talvez tenha boas intenções mas acho ele uma besta, sinceramente. Isso que ele faz é incitação de classes, não sei se conscientemente ou não, de gay contra hétero, de homem contra mulher, de pobre contra rico.

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Será? Você parece muito desiludido.

A gente achava por exemplo que não ia mais ter “Hora do Brasil”, e continuou. Por que? Assim como o horário gratuito eleitoral. A geração de 80 foi muito feliz porque todo mundo achava que ia sair da idade das trevas, que haveria um progresso, lutando pela democracia. Mas a gente não saiu da ditadura e agora estamos vivendo um período de ditadura do proletariado. Estão aparelhando tudo, roubando paca. Tanto tempo no poder é perigoso. Pra mim tanto faz porque estou com a vida ganha de certa forma, tenho uma vida de classe média alta porque graças a Deus trabalhei por 30 anos e soube economizar.

Você sofre preconceito na classe artística por conta de suas opiniões?

Não, pra minha surpresa a maioria está do meu lado. Tem um ou outro enganado que foi pro outro lado. Naturalmente estou mais próximo dos artistas de minha geração, como a turma do Casseta, o Lobão, Paralamas. Entre a velha guarda a convivência é pacífica.

Como era nos anos 80?

Naquele tempo estávamos todos do mesmo lado contra a ditadura. Hoje em dia ganhei consciência da ditadura quando comecei a dar minhas opiniões no twitter. De repente apareceu uma patrulha ideológica de esquerda, cheia de militante virtual, que eu não sabia que existia. Sempre falei mal do governo mas agora estão me xingando. É ridículo.

Você lê muito? Como se informa?

Já li muito. Andersen, Grimm, quando criança. Muito gibi. No colegial li coleções inteiras sobre filósofos, muita ficção científica e muitas crônicas. Hoje em dia quase não consigo ler pois tenho déficit de atenção. Começo vários livros mas não termino nenhum. Mas leio jornais e fico na internet vendo links e blogs.

Como você e Danilo Gentili se conheceram?

Quando o Danilo me convidou, em 2010, para seu programa na Band, a gente só se conhecia de twitter. E eu lhe disse, ‘estou quase que me aposentando, já estou brecando na vida, enquanto você está acelerando’.

Qual seu papel no programa?

É servir de contraponto pro Danilo, fazer umas piadas, e basicamente apresentar convidados com a parte musical. Estou adorando pois era fã do ‘The Late Show’ do David Letterman e já sabia o que tinha que fazer no ar. O Ultraje já vivia tirando sarro com um espírito de fundão de escola no ginásio. Encontramos o ambiente propício para fazer a mesma coisa na TV. É bem menos tedioso que fazer show.

Que acha do programa do Jô?

Assistia bastante. Ele aumentou a parte de entrevistas e tal, com relação ao formato do ‘Late Show’. Já o Danilo está chegando mais perto do formato original. Nossa função no programa é muito maior. Embora o programa seja do Danilo, ele funciona justamente porque tem uma turma de pessoas que se identifica com o ambiente. Temos afinidade nas ideias. E não é tudo centralizado no Danilo, nem é objetivo dele, eu por exemplo tenho liberdade de falar o que quiser a qualquer hora. Se a entrevista não está indo bem por exemplo, se o entrevistado é tímido ou só responde monossílabo, a gente interfere.

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"Ou sociedade acompanha internet ou democracia começa a ficar em xeque"

Por Morris Kachani
08/04/14 06:40

Entrevistas com Ronaldo Lemos e Emilio Domingos, sobre Batalha do PassinhoPOR TRACY SEGAL

O mundo virtual já é uma realidade enquanto a privacidade está se tornando ficção. Não há mais divisão entre trabalho e vida particular, e seus dados pessoais são vendidos indiscriminadamente.  Como ficam as regras do jogo?

“O limite entre privado e público hoje é um limite móvel”, diz Ronaldo Lemos, um dos principais responsáveis pelo Marco Civil da Internet.

Ele alerta para os riscos que a cultura da internet traz para a democracia, mas se revela otimista diante das perspectivas. Nesta entrevista, defende as leis reguladoras como a grande saída diante deste panóptico de vigilância perfeita que pode se tornar o mundo cibernético.

Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, e professor de Direito da Uerj. Mestre em direito pela Universidade de Harvard, doutor em direito pela Universidade de São Paulo e representante do MIT Media Lab no Brasil. É também diretor do projeto Creative Commons no Brasil e membro do Conselho de Administração da Fundação Mozilla.  Escreve semanalmente para a Folha e apresenta o programa Navegador na Globonews, focado em inovação.

*

Existe privacidade na vida contemporânea?

Não.  O limite entre privado e público hoje é um limite móvel. Surge uma nova ideia de privacidade: os círculos de controles. Você tem um custodiante, uma empresa tipo Google ou Facebook, com quem estabelece uma relação de confiança, e a empresa vai ser a guardiã daquelas informações. Qual a responsabilidade deste custodiante? Essas são as regras que a lei pode incentivar.

Hoje quando você acessa um site, muitas vezes acaba acessando 30 outros que estão coletando seus dados sem seu consentimento. São sorvedouros de dados pessoais.

Qual o limite ético para a arrecadação das empresas com os dados pessoais?

Os dados pessoais são o petróleo da internet. Grande parte dos serviços gratuitos são pagos com a venda de dados pessoais. É disso que vivem empresas como Google, Facebook, Twitter e muitas outras. E também empresas educacionais como a EDX de Havard, que oferecem cursos incríveis – todas usam como esquema de negócios a venda de dados pessoais.

A meu ver isso tem que ser conduzido por uma decisão que atravesse os canais democráticos.  O problema é sistêmico. A tecnologia desafia a democracia a se aperfeiçoar. A sociedade se tornou infinitamente mais complexa. Ou a sociedade acompanha ou a própria democracia começa a ficar em xeque. Eu sou otimista, acho que a longo prazo a democracia vai se expandir com a tecnologia. Como por exemplo com as novas formas de consulta pública. Hoje mais do que nunca é possível compartilhar a tomada de decisões públicas entre grupos de pessoas, entre a sociedade civil.

As relações de trabalho também mudaram.

Essas mudanças não vieram para liberar tempo de ninguém , inclusive acaba a diferença entre espaço de trabalho e espaço privado. Você não para de gerar valor em nenhum momento. Isso é uma característica da nossa sociedade hoje.  Primeiro precisamos pensar no impacto disso em nós, indivíduos,  se a gente quer isso mesmo, por que só vai se aprofundar. Outro desafio é que a gente vai ter que responder coletivamente, a sua decisão individual é irrelevante.

Como ficam os direitos trabalhistas nesse contexto?

O direito do trabalho vai ficando desafiado assim como a democracia. Hoje não tem um paradigma que alcance este tipo de questão, é difícil dizer até pra quem você trabalha. Quando você está numa rede social, produz um valor que está sendo apropriado por alguém. Os paradigmas do direito do trabalho não dão conta da complexidade. Como reconstruir e repensar isso? A lógica do trabalho e da vida foi uma das grandes conquistas dos direitos trabalhistas. Mas hoje você produz  12, 18 horas por dia, ou até dormindo.

O diagnóstico é que leis trabalhistas estão se distanciando cada vez mais do que se tornou o paradigma do trabalho como aplicação de esforço humano para geração de valor, por que este valor é produzido de formas muito mais complexas e abstratas do que as leis dão conta.

O que faltou no Marco Civil, em sua opinião?

Primeiro é importante ressaltar que o Marco Civil foi construído de forma inédita num processo colaborativo. O texto final aprovado pela Câmara é muito fiel ao texto final originário da consulta pública. Nisso o Brasil ocupa um lugar singular e inovador. Nesse sentido os Estados Unidos estão desmoralizados com os casos da espionagem. O Brasil é hoje exemplo da grande democracia no mundo com a missão de proteger direitos na internet, estabelecer as regras do jogo.

Agora, para além do Marco Civil, a agenda imediata é a lei de Proteção dos Dados Pessoais. Nessa o Brasil está atrasado 40 anos. O Marco Civil trata da questão da privacidade com alguns artigos mas não trata deste tema exaustivamente e nem da questão dos dados pessoais em si. O Marco Civil é um avanço mas nem começa a esgotar esse tema.

Por exemplo?

Por exemplo a questão de dados sensíveis, coisas como religião,  orientação sexual, o histórico médico, dados muito sensíveis que merecem uma regulação específica e não há nada que trate  disso.

Inclusive o Brasil já tem uma redação para este tipo de lei, extensa e longa que foi preparada pelo Ministério da Justiça. O problema é que ela está parada no Executivo. Argentina, Chile, Colômbia, todos têm. Os países europeus têm leis muito estritas quanto a dados pessoais.

Qual o grande desafio?

O desafio que a tecnologia traz é para as instituições que foram construídas nos últimos quatro séculos. Princípios que foram construídos não podem ser jogados pelo ralo. Ter leis com causas pétreas que não podem ser modificadas é fundamental. Regras claras e fortes o suficientes para sobreviverem a qualquer tipo de governo. Não dá pra negociar, transigir com liberdade de expressão e privacidade.

O ciberespaço pode ser considerado um terreno a ser explorado como um dia a terra foi? Corremos o risco de surgirem os “latifundiários” e as “oligarquias” nesse mundo virtual?

Hoje existe o fenômeno das superempresas da internet, e esse fenômeno merece atenção. Empresas como Facebook, Yahoo, Twitter, Google, e outras. Hoje, algumas delas têm populações comparáveis a países. O Facebook tem um bilhão de usuários, por exemplo. As regras são decididas pelo próprio Facebook, e aplicadas para um bilhão de pessoas.

Que tipo de regulação deve ser dado a essa potência? Isso é um desafio para a lei e um desafio pro Estado. Muitos acham que devemos combater fogo com fogo. Como se cada um precisasse saber tudo de tecnologia de anonimização para se proteger. Mas eu  acho que assim não vai funcionar.

A minha visão nesse sentido é a lei. Por isso o Marco Civil é tão importante, nesse mundo em que a rede pode caminhar para virar uma ferramenta  de vigilância perfeita.

Hoje você sabe passo a passo o que é feito pelas pessoas ao longo de suas vidas. O que vai permitir que isso seja uma coisa incrível e positiva é a lei, a única ferramenta para marcar a divisão das águas. Leis que reforcem princípios  construídos e que defendam liberdade de expressão, privacidade, liberdades civis , individuais, sistema de freios e contrapesos.

Como está o Brasil em termos de empreendedorismo virtual?

Temos várias empresas de capital de risco, tipo a Samba Tech, que começam a decolar.  Tem a boo-box, o Buscapé.

O que tem, e aumenta a minha dose de otimismo, é toda uma geração de jovens brasileiros inspirados por Mark Zuckerberg, que querem a todo custo empreender. Isso é uma das melhores coisas que acontece no Brasil hoje. Mas na hora que alguém resolve abrir a empresa esbarra em burocracias do século 19, enquanto está com ideias do século 21.  Descobre que vai levar 120 dias para abrir a empresa além de uma série de dificuldades.

É um cenário inóspito para a inovação. E se abrir foi difícil, fechar é um horror, e isso é péssimo por que as empresas têm que poder falhar, e poder falhar rápido. E se falhar, não podem ser punidas por isso. Tem que ter um ciclo muito rápido. No Chile você abre uma empresa em um dia na internet e fecha com igual facilidade. No Brasil isso não acontece. Como se muda esse ecossistema?

A democracia da rede encontra uma veia aberta para o liberalismo econômico?

A boa vontade com o Vale do Silício está acabando. A revista Wired no mês passado fez uma crítica quanto à arrogância destas empresas. É um modelo com defeitos. No Brasil a gente nem chegou ao estágio dessa crítica. Por aqui ainda é desejável que a gente tenha um ciclo baseado em capital de risco, com jovens empreendedores em inovação descentralizada, que é o que gerou o Vale do Silício. Aqui a gente vive todos os processos ao mesmo tempo, a gente vive a falta de saneamento básico junto com a falta de capital de risco.

Como visualiza o futuro da mídia impressa? As redes sociais vão roubar esse espaço?

Existe uma crise que faz parte de um processo de transformação. O modelo de negócio pode evoluir. Agora é um momento de experimentação, é preciso inventar uma nova forma. No caso das mídias alternativas, como a rede social, quem controla  e edita as informações são algoritmos, expressões matemáticas que ao analisarem o meu perfil criam uma regra do que eu vou ver. Ora, um editorial que é feito por um algoritmo também não é bom.

Achar que aquilo vai traduzir a diversidade da esfera pública é um erro. Confundir feed do Facebook com opinião pública é um erro crasso. No fim eu acho que é bom ter tudo, vários filtros de informação ricos. É bom ter TV, rede social,  jornal, algoritmo,  priorizar o equilíbrio de forças entre produzir, disseminar e filtrar.

E os bitcoins?

Isso me parece algo ultra liberal. Com eles você tem muito mais facilidade e liberdade para migrar dinheiro de um país para o outro. Por outro lado, facilita a lavagem de dinheiro. A internet proporciona coisas interessantes e outras preocupantes. Ela mudou tudo, mas não como se esperava. Então tem muito entusiasmo, mas tem muita frustação. As moedas virtuais hoje são uma grande novidade, mas a tendência é que sejam assimiladas pelo próprio sistema bancário.

 

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Paulo Coelho: "você pode ser simples sem ser superficial"

Por Morris Kachani
05/04/14 07:30

Aos 66 anos, o escritor Paulo Coelho se prepara para lançar seu vigésimo oitavo livro. “Adultério” (Sextante)  será publicado inicialmente no Brasil, com uma tiragem de 100 mil exemplares. Até o final do ano, será lançado em mais de 34 países.

O livro trata de um triângulo amoroso envolvendo três personagens arquetípicos. Linda, uma bonita jornalista de 31 anos que vive aparentemente um conto de fadas, ao lado do marido que é rico herdeiro e trabalha com finanças, e os dois filhos. E um antigo namorado dos tempos de escola, político em ascensão, também casado.

A rotina e o tédio são o pano de fundo. A história se passa em Genebra, na Suíça, onde vive o escritor.

Nesta entrevista, Coelho conta que a ideia de escrever sobre adultério surgiu após consultar seus seguidores na internet. São 19 milhões no facebook, 1 milhão no twitter, além dos blogs que mantém. Paulo Coelho é o escritor com o maior número de seguidores no facebook. Tem o triplo de Dan Brown, que ocupa a segunda posição.

“80% das pessoas consultadas falavam em depressão induzida por uma infidelidade conjugal. Comecei a entrar em fóruns de maneira anônima para entender porque as pessoas reagiam dessa maneira. O resultado foi que terminei em duas ou três pessoas que me serviram de base para a composição dos personagens”, diz.

Ocupante da cadeira de número 21 da Academia Brasileira de Letras, Paulo Coelho tem 165 milhões de livros vendidos no mundo, traduzidos em 80 idiomas.

 A editora Sextante, que publicou “O Aleph” em 2010 e “O manuscrito encontrado em Accra” em 2012, afirma já ter vendido 500 mil exemplares das duas obras.

De acordo com levantamento feito pela Nielsen, de junho de 2013 até hoje Paulo Coelho vendeu 62.340 livros. “O Alquimista” representa 20,3% do total. Em segundo aparece “Manuscritos encontrados em Accra”, com 11,2%, e em terceiro “O Diário de um Mago”, com 10,8%.

Segundo Carlos Carrenho, do PublishNews, portal de informações sobre o mercado editorial, a venda de Paulo Coelho nos últimos anos “está muito aquém” do que já foi antigamente. “Nos últimos anos, raras vezes seus livros frequentaram a lista dos vinte mais vendidos. Acredito que seus números no Brasil sempre foram menores proporcionalmente, quando comparados ao resto do mundo”, diz.

Para esta entrevista, o escritor recebeu vinte e duas perguntas por email. Decidiu selecioná-las e gravou as respostas em um podcast que totalizou 15 minutos de duração.

* 

Por que escolheu o tema do adultério?

Eu tinha visto um filme sobre um estudo que marcou a geração dos meus pais, que foi o relatório Kinsey, no qual um cientista desenvolveu uma pesquisa de comportamento sexual. Depois dele, as pessoas passaram a ficar menos preocupadas e encucadas com seu próprio comportamento sexual. Antes todo mundo achava que era único, que só ele tinha esse problema, que só ele se masturbava, que só ele gostava disso ou daquilo. Com o relatório, houve uma espécie de alívio geral, ficou evidente que ninguém estava sozinho. Daí pensei, ‘puxa vida, qual seria o grande problema hoje em dia’?

A que conclusão chegou?

Achei que fosse a depressão. Pensei em fazer um post a respeito para meu blog. Mas antes decidi lançar o tema. Perguntei aos meus leitores na web sobre o que achavam da depressão, que me parecia ser o maior problema humano hoje. Efetivamente as pessoas começaram a falar a respeito, mas na verdade 80% delas falavam em depressão induzida por uma infidelidade conjugal. Então deduzi que o tema era adultério.

Qual foi o passo seguinte?

A ideia no início era escrever um post. Mas aí comecei a entrar em fóruns de maneira anônima para entender por que as pessoas reagiam dessa maneira. O resultado foi que terminei em duas ou três pessoas que me serviram de base. Aí nasceu o livro, um triângulo amoroso com personagens muito fortes.

80% das pessoas com depressão induzida por uma infidelidade conjugal é um número muito alto, não?

No final das contas infidelidade conjugal e depressão, como eu falo no próprio livro, são duas coisas diferentes. O verdadeiro deprimido não quer saber de conversar sobre depressão. Uma coisa são esses problemas que a gente tem na vida diária, outra são as questões médicas, a serem tratadas com remédio.

Qual seu entendimento sobre a depressão e a melancolia na vida contemporânea, e o uso disseminado de remédios de tarja preta?

É engraçado porque quando entrei em contato nos fóruns sobre adultério, nenhuma das pessoas se tratava com remédio. Acho que o remédio sufoca teu enfrentamento com o problema, ele não mostra. Ninguém ali estava se tratando. As pessoas realmente deprimidas, elas não participaram da discussão, nem estão em fóruns nem nada. Estão tomando seus remédios de tarja preta.

O adultério deve ser considerado um pecado?

Eu não julguei o casamento, o adultério, eu não julguei nada. Eu acho que um escritor muitas vezes é apenas um repórter do seu tempo.

O que há de biográfico no livro?

O vôo de parapente (que encerra o livro), foi o que me fez casar. Ocorreu exatamente tudo aquilo que eu descrevo no texto, só que na hora que eu fui agendar com o concierge, a minha mulher disse que não iria, pois não queria morrer solteira. Nós já vivíamos juntos há 24 anos, mas nunca nos casamos. Então eu disse: “Está bom, a gente casa!”. Foi assim, de brincadeira. Depois ela me cobrou, e eu casei. A única diferença é que na hora o concierge falou uma coisa que nunca devia ter falado: “Só temos o parapente às 16h”. Aí dançou, porque se você faz isso no impulso, está tudo bem. E eu queria fazer isso no impulso, mas como era só para mais tarde, você acaba pensando, vendo, refletindo, e termina não pulando. Mas eu ainda tenho a intenção de pular.

O que representa este livro para você e no contexto de sua obra?

Foi um desafio interessante. Não posso viver sem desafios, aliás nunca pude viver sem arriscar. Meus ciclos são de dois anos. Posso falar de qualquer assunto. Em outros livros já tratei do espiritual, da prostituição, da lenda, da loucura ou da cultura das celebridades. Mas o que marca todos é a ideia do estilo. Você pode ser simples sem ser superficial.

Qual seu momento atual?

Vivo hoje em dia de maneira praticamente isolada. Não faço lançamento e não dou autógrafo. Atualmente tenho comunidades muito fortes, no facebook já cheguei a 19 milhões de seguidores, no twitter tenho 9 milhões. 20% são brasileiros. Isso tudo me permite interagir com meu leitor, coisa que não podia fazer antigamente.

A superficialidade das relações nas redes sociais não o incomoda?

Eu discordo quando você diz que tem superficialidade. Acho que também pode ser superficial, inclusive a trolagem é muito superficial. Mas existe uma relação muito intensa também. Eu acabei conhecendo gente muito interessante nas comunidades sociais. Há mais ou menos um mês, por exemplo, eu acabei ficando amigo de um autor que eu havia gostado do livro, o “Dirty Wars”, e que tinha sido correspondente de guerra. Ele acabou concorrendo ao Oscar, pois fez um filme depois também. Ou seja, é só saber o mapa da mina e procurar pessoas que te interessam. Mas sobre passar muito tempo nas redes sociais, é verdade, eu fico aqui muito tempo, mais tempo do que deveria.

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Cauã Reymond: “as mulheres têm um fetiche, tanto pela farda como pelo bandido”

Por Morris Kachani
31/03/14 08:33
Cauã na versão do ex-policial que vira caçador de recompensas (foto: divulgação)

Cauã na versão do ex-policial que vira caçador de recompensas (foto: divulgação)

 

Seis meses depois do turbilhão da separação da atriz Grazi Massafera, com quem teve a pequena Sofia, que tem quase dois anos, o ator galã Cauã Reymond diz estar bem mais tranquilo. As sessões de análise, as corridas na areia fofa da praia da Barra, no Rio, as braçadas no mar e, em menor escala, o surf, têm colaborado.

Quanto ao romance com a atriz Ísis Valverde, ele fala a respeito com uma frase-chave: “estou casado realmente com meu trabalho e com minha filha. Você pode ver, eu nunca estou na noite”.

“A paternidade me trouxe um amadurecimento que só melhorou minha vida. Hoje consigo diferenciar com muita nitidez o foco e o egoísmo”, afirma o ator, que mora perto da filha em um lugarzinho bem low profile, próximo à natureza, segundo define.

Atualmente, Cauã está nas telas interpretando um traficante playboy no longa “Alemão”. O filme não foi muito bem recebido pela crítica. 625 mil já o assistiram (sem contar este final de semana), segundo o site especializado Filme B. Como base de comparação, “Minha mãe é uma peça – o filme” liderou a safra dos nacionais em 2013, com público de 4,6 milhões.

No momento, Cauã está gravando uma minissérie da Globo na qual encarna um policial autodestrutivo. Para este papel, assim como para interpretar o traficante, o ator se propôs a fazer uma espécie de laboratório, com imersão nos universos afetivos dos personagens retratados.

Para “Alemão”, diz que passou dois meses circulando pelo complexo de favelas e também pelo Vidigal. Conversou com traficantes e ex-traficantes, funkeiros e moradores. Visitou os barracos, conheceu as famosas piscinas com hidromassagem, rotas de fuga e locais de desova de defuntos.

E aqui, como o traficante Playboy, em "Alemão" (foto: divulgação)

E aqui, como o traficante Playboy, em “Alemão” (foto: divulgação)

Para viver o personagem de “A Caçada”, minissérie da Globo que estreia em abril, os encontros na academia do Core (unidade especial da polícia civil do Rio de Janeiro) têm sido inspiradores. É onde o ator está aprendendo a atirar, portar arma e lidar com várias situações corriqueiras na vida de um policial.

Nesta entrevista ele traça um paralelo entre o policial e o traficante, logo de cara identificando um ponto em comum: “as mulheres têm um fetiche, tanto pela farda como pelo bandido”.

*

Por que esse fetiche?

Tem a ver com a construção do erótico feminino. É a história do tubarão, que ocupa o topo da cadeia alimentar em termos de violência. Em muitos morros, o traficante é quase um pop star.

Você já disse que o vilão se dá melhor que o mocinho nas novelas.

E não é? Há uma mudança de padrão. A periguete e o cafajeste imediatamente causam empatia.

Como você lida com essa coisa de ser galã, de ser desejado?

É muito estranho isso. Você não pode cair nesse conto de fadas adulto, se não começa a achar que tem direitos que na realidade não tem.

Voltando ao filme, quais são os pontos de afeto que encontrou no traficante e no policial?

O traficante tem o desejo de subir na vida, pena que seja feito dessa forma. Já o policial, especialmente aquele que é de elite, como do Bope ou do Core, esse tem honra. Ganha pouco mas está ali porque ama, porque acredita no que faz. Mas há outro ponto em comum que encontrei entre os dois: é o vício na guerra, o vício na adrenalina, tal como retratado no filme “Guerra ao Terror”, por exemplo.

Como vive um traficante?

Inspirei-me em traficantes reais do Alemão, como o Luciano Pezão que era boa pinta, e o Nem, que cuidava da contabilidade. O traficante fala pouco, escuta bastante e está sempre desconfiado.  É um cara humano, mas quando necessário desumano. Está pronto a resolver as coisas e sempre tem uma rota de fuga.

Quais são suas vaidades?

Ele ganha muito dinheiro, mas não tem no que gastar, até porque está limitado geograficamente pelo espaço – ele não pode sair do morro. Veste-se como um playboy da zona sul. O whisky Blue Label, que é o top de linha da Johnny Walker, é a bebida preferida. Charuto também eles fumam, no filme eu traguei e foi horrível. Mas é a tal coisa, é algo compulsivo.

E drogas?

Tive acesso ao pessoal do Pezão, conversei bastante com seu personal trainer – ele treina jiu jitsu, até os 22 anos também treinei. Entendi que a cúpula não tem vício. Eles bebem, mas não cheiram cocaína. No máximo, maconha. O traficante copia um comportamento que era do Tim Maia: você faz dois cigarros e só começa a fumar o seu depois que o seu parceiro já tiver acendido o dele. Para ter o controle da situação.

E as mulheres?

O traficante vive como um sultão, com várias mulheres. Tem a primeira, que sabe que não é a única mas finge que não sabe. E todas as outras, que sabem da primeira. Tem também o código de honra entre eles. Quando um traficante é preso, suas mulheres ganham proteção no morro.

É boa a vida de traficante?

Mais ou menos. Na minha pesquisa constatei que dormem pouco, porque estão sempre desconfiados. Há aqueles que trocam de barraco toda a noite. Nem todos são admirados na comunidade, especialmente os mais paranóicos.

Que conclusões tirou desta imersão?

A frase que se tornou meu bordão no filme veio desse laboratório: ‘Não quero mais ser bandido, quero ser criminoso’. Ou seja, pra que sujar as mãos com homicídio e tortura? Melhor ter uma mente criminosa e se transformar em homem de negócios.

Vários policiais foram assassinados recentemente, no Alemão. Que acha das UPPs?

Não adianta invadir o morro sem proporcionar condições de vida mais dignas para a população. Se não houver saneamento básico e outras melhorias, não resolve. Se os jovens não forem educados, eles continuarão admirando apenas traficantes e jogadores de futebol. As religiões, principalmente  evangélicas, ajudam muito a sair do tráfico. Mas não é suficiente.

Como enxerga o futuro?

Enquanto não houver planejamento social teremos que invadir o mesmo morro várias vezes. Durante o laboratório visitamos o prédio do centro comunitário do Alemão, com três andares. É bonito, bem organizado, mas aquilo é muito pouco para uma comunidade de 200 mil pessoas.

O tráfico está vencendo?

É um pouco triste ver que o tráfico ainda existe no Alemão, assim como o “arrego” (suborno pago aos policiais). O tráfico conta com mentes brilhantes. Tem muita gente na ativa, outros fugiram para outras comunidades, e tem aqueles que decidiram largar. O Comando Vermelho está mais enfraquecido e o Terceiro Comando chega mais forte.

Mentes brilhantes?

Sim. Clareza no raciocínio, para comandar e lucrar. Por exemplo, costumam misturar pó de fermento Royal a cocaína, para aumentar o lucro. Assim, 1 kg vira 2,5 kilos.

Que soluções apontam os ex-traficantes?

Todos com quem conversei se mostraram favoráveis à legalização das drogas. Principalmente da maconha. Com relação à cocaína, alguns ainda têm um certo receio.

Que acha da atuação da polícia?

Existe uma certa rixa. A PM é mais favorável a UPP. Mas talvez eu não seja parâmetro, pois estou fazendo um treinamento de alta performance com a elite da polícia. Assim como o Bope, o Core é um agrupamento reconhecido no mundo todo como referência no treinamento de guerrilha urbana. Tenho a sensação de que são incorruptíveis, que amam o que fazem.

E as polícias civil e militar?

Elas não se entendem. Por exemplo, discordam sobre como foi feita a invasão do Alemão, que contou com o Exército e a inteligência da polícia civil. Os policiais dizem que o controle e a segurança só duraram um mês.

Que achou dos bailes funk?

São patrocinados pelo tráfico assim como o Carnaval é pelos bicheiros. Pessoalmente não tenho nada contra mas não escuto no meu carro. Tem um funk que diz, “sei que você é casado mas eu não ligo”. Um pouco agressivo talvez, mas mostra o lugar novo da mulher na sociedade. De toda forma é um entretenimento e tem que ter. Quem sou eu para dizer o que pode ou não? Só sei que tem que ser seguro e saudável.

E os moradores, se sentem mais seguros com as UPPs?

Tem de tudo, inclusive quem se sentia mais seguro quando o complexo estava só nas mãos do tráfico. Por conta do carisma dos chefes, acredito.

Há quem diga que “Alemão” é um filme raso quando comparado com “Cidade de Deus”, por exemplo.

São pegadas bem diferentes. Não tínhamos essa pretensão. Nosso objetivo é entreter e fazer um bom produto. É uma obra fictícia que não toma partido, está mais focada na ambiguidade e nos conflitos psicológicos de lado a lado.

E como está sua vida pessoal? Você se separou há cinco meses, as revistas de fofoca falam de um novo relacionamento…

Prefiro não falar sobre o assunto, até em respeito a minha filha pequena. Sinto que o turbilhão da separação já passou. Agora estou bem tranquilo. O mais gostoso é saber que o meu trabalho está tomando uma proporção maior. Como os resultados de “Amores Roubados”, agora o “Alemão”, e logo mais “O Caçador”.

 

 

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A ditadura e o 'jeitinho brasileiro', segundo Maria Rita Kehl

Por Morris Kachani
28/03/14 08:40
Para Kehl, Lei da Anistia revela 'jeitinho brasileiro'

Para Kehl, ditadura deu vazão a sadismo que as pessoas não se autorizam (foto: divulgação)

Cinquenta anos depois do golpe, como a sociedade brasileira lida com a memória deste período? Como funciona o subterrâneo psíquico de quem nela atuou, seja como agente repressor ou na luta armada? Qual seria o saldo do inconsciente coletivo?

A psicanalista Maria Rita Kehl, integrante da Comissão Nacional da Verdade, recebeu a reportagem em seu consultório no bairro de Perdizes, em São Paulo, para uma conversa que teve o tempo de duração de uma sessão de análise – 40 minutos.

Kehl foi editora do jornal Movimento, um dos mais importantes veículos da imprensa alternativa durante a ditadura. Atende pacientes desde 81, é autora de oito livros, e venceu o prêmio Jabuti de 2010 com “O tempo e o cão”.

*

Como lidamos com a memória do período da ditadura?

Muito mal. A ditadura espalhou uma ideia que até hoje funciona na cabeça dos desinformados, de que era preciso “pôr ordem na bagunça”, ou “acabar com a corrupção”, e de que se houve alguma violência, ela foi pouca e necessária. Então até hoje, para muitos, o golpe está associado a isso, embora a corrupção não tenha acabado, pelo contrário.

E nem a ‘bagunça’.

Agora temos os protestos e o governo Dilma, que é inábil. Não digo que não seja uma boa governante mas não tem habilidade para deixar todo mundo contente, como o Lula.

Voltando à ditadura, há quem se recuse a se referir a ela como tal e afirme que a tortura inexistiu.

O autor judeu italiano Primo Levi, que sobreviveu aos campos de concentração na Segunda Guerra, escreveu que seu maior pesadelo era imaginar que ao contar sua história as pessoas não iriam acreditar. E é isso que acontece. Elas estão tão reprimidas no seu imaginário que não têm coragem de fantasiar situações desta natureza.

Existe algo de tipicamente brasileiro nesta relação?

O ponto central é a Lei da Anistia, especificamente no tópico que determina que ninguém seja julgado. Isso cria uma equivalência entre os que arriscaram a própria vida com os que exerceram a tirania. Existe um ‘jeitinho brasileiro’ na maneira como esse pacto foi costurado e na rápida reacomodação da sociedade, com ninguém tendo sido punido. Arnaldo Jabor fala sobre isso em “Tudo Bem”. E é o que Sérgio Buarque de Holanda chama de ‘homem cordial’. Este homem pode ser brutal no trato com empregados por exemplo, mas depois deixa barato pra dizer que ‘todo mundo se ama’. E assim a dominância de classes se perpetua.

Após a escravidão houve também uma reacomodação rápida da sociedade, não?

Sim, e a um preço horroroso, com hordas de escravos tendo sido jogados na rua. Nos Estados Unidos foi diferente, cada um ganhou um palmo de terra para trabalhar. Foi por isso que o cineasta Spike Lee chamou sua produtora de 40 Acres and a Mule.

Em alguns países a revisão da ditadura é tratada de forma diferente.

Veja o caso da Argentina. É claro que muito mais gente morreu por lá, mas isso não é parâmetro. O fato é que até os presidentes foram julgados e encarcerados.

Como uma pessoa comum se torna torturadora?

Instaurou-se um regime político autoritário sem uma oposição consentida. Só aí já temos uma ditadura. E se criou um mecanismo semi-secreto de abusos cuja prática dependia dos traços pessoais de cada agente do Estado. Assim a tortura se institucionaliza, mas nunca no papel. Não foi um desvio patológico. Virou um mecanismo de controle e repressão. Diria até que com a tortura o principal objetivo era criar um clima de terror. Só a intimidação não basta, é preciso mostrar que o regime também é capaz de matar.

E a tortura enquanto método de investigação?

Fica claro que a tortura não era utilizada para obter informação. Não é um mecanismo científico. Em geral tem uma hora que o torturado diz qualquer coisa, diante de tanto horror.

Como funciona a estrutura psíquica do torturador?

Ele sabe que está fazendo algo que não pode, tanto que até hoje pouca gente admite que a praticou. Raros são os depoimentos como o do coronel Paulo Malhães, em que assume que torturou, matou e ocultou cadáveres. O torturador sabe que se trata de um ato de exceção, escondido – mas o pratica porque está podendo. Tem um jogo sádico aí. Isso não quer dizer que todo torturador é um perverso em sua estrutura psíquica.

É o que, então?

Dizia Lacan que o superego não é uma instância ética. Seu funcionamento é muito paradoxal. No sentido de que o superego não é apenas um interditor, ele também nos encoraja a buscar o caminho mais fácil para exercer o narcisismo infantil. É como se ele estivesse dizendo: “você não pode gozar mas tem que continuar tentando”. E se tem um Estado falando “goza, meu filho” para um Sebastião Curió, para um Calhandra, para um Luis Maciel, deu no que deu.

Em outras palavras, a prerrogativa para ficar fora da lei é permanente, mas desde que seja sem um sentimento de culpa. Esse é um traço do neurótico. E se o Estado o autoriza, o perigo é imenso. Isso explica como os alemães abraçaram o nazismo. O povo alemão não ficou perverso de uma hora para outra. Foi o Estado que deu vazão ao instinto e ao sadismo que as pessoas não se autorizam por causa própria.

O filósofo Slavoj Zizek resumiu muito bem o papel do superego: se você pode, você deve.

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Protestos devem vir com força, afirma MPL

Por Morris Kachani
27/03/14 00:01
Marcelo Hotimsky, militante do MPL (foto: Carlos Ceconello/ Folhapress)

Marcelo Hotimsky, militante do MPL (foto: Carlos Ceconello/ Folhapress)

 

Após as manifestações de junho, o Movimento Passe Livre (MPL) vem intensificando suas atividades na periferia de São Paulo. Na agenda, críticas ao corte de linhas de ônibus e à implantação dos corredores em algumas das principais avenidas da cidade.

A liderança do movimento é horizontal, autônoma e anti-capitalista, como enfatiza o militante Marcelo Hotimsky, estudante do terceiro ano de filosofia da USP, pesquisador e professor de violão, que recebeu a reportagem na Praça do Relógio da Cidade Universitária.

Para ele os protestos de junho serviram de balão de ensaio para o que vem por aí: “a Copa é um ótimo contexto para organizarmos manifestações, porque os olhos do mundo estarão voltados para cá. Vocês vão ver”. Vários protestos com pautas concretas estão programados, de acordo com Marcelo, que acredita que as manifestações em massa podem vir a se repetir.

Em uma hora de conversa, ele criticou a gestão Haddad (“vejo na gestão do PT os mesmo vícios da gestão anterior, do DEM”), e afirmou que a manutenção do secretário de transportes Jilmar Tatto “é uma forma de selar pacto com o empresariado, pois ele vem de uma família que controla grande parte das peruas que circulam pela zona sul”.

Também defendeu a violência como forma estratégica de protesto: “aqui em São Paulo, é difícil dizer se a tarifa seria revertida se tantos ônibus não tivessem sido queimados em junho passado”.

*

O que aconteceu de junho para cá, no âmbito do MPL?

O MPL segue sendo o mesmo, defendendo uma gestão popular do transporte e tarifa zero. Quem tem que determinar como vai ser a política de transportes é o povo. Estamos fazendo um trabalho forte nas periferias, principalmente na zona sul e em alguma lutas na região leste onde tínhamos pouca inserção.

Que acha da expressão “o gigante acordou”?

Engraçado ouvir isso. A gente acha que o gigante nunca dormiu. O que vimos em junho foram protestos massivos no centro da cidade. Depois disseram que o gigante foi dormir mas houve uma série de movimentos e conquistas neste período, como as ocupações por parte dos movimentos de moradia e mais recentemente, a greve dos garis no Rio de Janeiro.

Mas a passagem aumentou no Rio de Janeiro, e não houve uma mobilização popular como a de junho.

Há vários elementos. Ficou muito claro que depois da morte do cinegrafista houve um grande movimento da imprensa e de setores mais reacionários, o que acabou encobrindo a verdadeira pauta das manifestações que era o aumento da tarifa.

Acredita que os protestos em massa podem se repetir?

Sim. Existe um número muito grande de pessoas indignadas. Uma boa prévia disso foi no ano passado. Os protestos começaram por conta do aumento da tarifa e ganharam corpo também por outros motivos. O povo está irritado, há um rechaço generalizado aos partidos políticos – o que assumiu contornos complicados-, e muita gente indignada com os gastos públicos da Copa. A situação nas periferias continua complicadíssima.

Qual é a agenda do MPL?

Varia de bairro para bairro, mas o principal é o corte de linhas de ônibus, que surgiu em outubro passado. Foram 118 linhas cortadas, 48 na região da zona leste O discurso da Prefeitura é a modernização do sistema de transportes: melhor agilidade, espaço e tempo. Que os ônibus façam percursos retos por assim dizer, com mais corredores e menos circulação dentro dos bairros.

E funciona, em sua opinião?

O que aconteceu na prática é que muitos ônibus que circulavam antes deixaram de circular e nada foi colocado no lugar. As pessoas que pegavam um ônibus do bairro para o centro agora precisam se locomover caminhando muitas vezes por quilômetros, para chegar a uma avenida principal e pegar ônibus mais lotados.

Qual o pano de fundo desta decisão?

Muita gente precisava pegar dois ônibus ou seja, rodava a catraca por duas vezes para fazer uma viagem. Por mais que o bilhete único cobrisse esse custo, isso não significa que não era subsidiado. A Prefeitura pagava pelas duas passagens e agora paga por uma. Com isso há menos ônibus e mais lotados. Para o empresário é bom: ele gasta menos combustível, menos salário com cobrador e motorista, e continua recebendo um grande contingente de passageiros.

Qual o balanço que faz da gestão de Jilmar Tatto?

Muito negativo. As políticas que foram implementadas foram muito ruins.

Que acha das faixas de ônibus exclusivas?

É uma política de fácil implementação, paliativa. Custa apenas tinta para a Prefeitura fazer uma  linha branca no chão, e isso é interessante para os empresários. Porque com o ônibus andando mais rápido, economizam gasolina e ganham mais viagens com o mesmo veículo. Não vejo em nenhum momento a Prefeitura falando que vai colocar mais ônibus para circular, quando estão todos lotados. E essa é a questão que importa. O problema é que as políticas não estão sendo pensadas em conjunto com a população.

O MPL é contra o transporte privado?

Não somos diretamente contra o transporte privado. Mas é que a preferência ao privado é gritante. Uma pesquisa feita pelo Ipea mostrou que mais de 37 milhões de brasileiros não podiam pagar pelo transporte em 2011. E que, de cada 12 reais investidos no transporte, 11 iam para o privado em forma de subsídios etc.

O PT é uma decepção?

Não, era até esperado. Para ganhar as eleições e se colocar onde se colocou, o partido construiu laços com empresários de transporte. Jilmar Tatto vem de uma família de empresários de transporte com muito poder principalmente na região sul de São Paulo. Controlam grande parte das peruas que passam na região, então ele na secretaria é uma forma de selar pacto com o empresariado.

Tem favorecimento?

Isso costuma ser bem descarado mesmo. Em entrevista recente à Folha, o Barata Filho, dono de boa parte das empresas de ônibus do Rio de Janeiro, foi questionado sobre a existência de uma máfia de transportes. Respondeu que máfia não há, o que existe é um grupo político que vai favorecer certos candidatos que defenderão seus interesses, e o compara à bancada ruralista. Então é um absurdo, temos um grupo de empresários definindo como será algo que deveria ser um direito do cidadão.

Kassab era melhor?

De maneira nenhuma. Tanto sob a gestão do PT como do DEM, os interesses estão sendo mantidos. Se na gestão Haddad temos a família Tatto, no caso de Kassab tínhamos seu irmão Pedro, inteiramente envolvido com o empresariado do transporte.

Será que os políticos entenderam os recados de junho?

Acho que em grande parte sim. Houve algo muito interessante: eles se sentiram ameaçados e perceberam que precisarão ouvir a população. A questão é que para se elegerem sempre vão precisar dos laços com o empresariado. Cabe a mobilização popular para impedir isso.

Como analisa o papel da imprensa?

No geral a grande imprensa reproduz os interesses da classe dominante pela qual é financiada. Por outro lado ainda tem um papel importante de formar opinião. O interessante é ver como nada é pré-determinado. No princípio ela era contra os protestos, mas depois mudou de lado, diante de tanta gente na rua a favor e a violência partindo da polícia. É claro que para fazer isso a imprensa precisou criar novas dicotomias, separando os “vândalos” dos “pacíficos”.

Os Black Blocs ajudam ou atrapalham?

Para começo de conversa, o Black Bloc precisa ser entendido como uma tática, e não um grupo. Te pergunto, o que é o Black Bloc?

Uns 100 ou 200 militantes mais exaltados que se reúnem pelo facebook e criam uma brigada de combate.

Esta é uma imagem errada passada pela imprensa. A prática de cobrir o rosto surgiu na Alemanha como tática para os manifestantes se defenderem. O pessoal se protegia jogando vinagre ou fazendo barricadas para a polícia não passar. E garanto que há ótimos motivos para manter o rosto mascarado, porque aqui você pode ser preso, fichado e identificado. A maioria dos adeptos são da periferia, uma classe média baixa ou baixa de jovens recém-inseridos no mercado de trabalho que pegam ônibus todo dia. Você já pegou ônibus lotado por 3 hs recentemente?

Não.

Você não sabe como é ruim. Esta é a dificuldade da classe média para entender que o protesto de junho era sim por conta do aumento dos vinte centavos, em sua origem. Sem conhecer o cotidiano de quem sofre cinco ou seis horas por dia e acha que paga muito caro por isso, é difícil de entender.

Acredita na violência como forma legítima de protestar?

Com certeza. As pessoas são violentadas todos os dias. A violência não está no Black Bloc, ela está na sociedade onde o dinheiro fala mais alto que o direito das pessoas. Travar uma avenida importante durante um protesto é uma forma de violência. Queimar ônibus, também. Não é só uma ação legítima como também interessante para a luta, do ponto de vista estratégico. Aqui em São Paulo é difícil dizer se a tarifa seria revertida se tantos ônibus não tivessem sido queimados.

Que acha do bilhete único semanal, que será implementado na semana que vem?

Não gostamos nem do semanal e nem do mensal. Quem tem 140 reais por mês sobrando, para poder pagar? Uma parcela ínfima.

A tarifa zero não é uma utopia?

De maneira nenhuma. Se conseguimos diminuir vinte centavos, podemos zerar. É tudo uma questão de vontade política. A população mais carente precisa se organizar e partir para a pressão.

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Boas vindas

Por Morris Kachani
26/03/14 21:42

Este será um blog de entrevistas. A ideia é dar voz a pessoas conhecidas e desconhecidas. O que é ser notável? Não é só necessariamente ser famoso. O fator determinante é compartilhar conhecimento e experiência, inspirando o debate com um olhar original e por vezes polêmico sobre os assuntos que estão em pauta no noticiário.

O recorte é amplo. Esta já é uma característica deste blogueiro. Cabem entrevistas abarcando temas tratados no jornal, com mais ênfase em cultura, política e conflitos sociais.

Por exemplo, para estrear o blog já temos uma sequência de três entrevistas produzidas. Marcelo Hotimsky, do MPL (Movimento Passe Livre), trata de temas como mobilidade urbana, gestão pública e protestos – os de junho e os que estão por vir. O ator global Cauã Reymond, que vive um traficante no filme “Alemão” e será um policial na minisérie “O caçador”, discorre sobre os pontos de afeto comuns que encontrou entre os dois personagens. E a psicanalista Maria Rita Kehl, que integra a Comissão da Verdade, faz uma reflexão sobre como a sociedade brasileira lida com a memória da ditadura.

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